ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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14.6.11
LATE MORNING BLOGS 2042 Um rei quis experimentar o juízo de três conselheiros que tinha, e indo passear com eles encontrou um velho a trabalhar num campo, e saudou-o: - Muita neve cai na serra! Respondeu o velho com a cara alegre: - Já, senhor, é tempo dela. Os conselheiros ficaram a olhar uns para os outros, porque era Verão, e não percebiam o que o velho e o rei queriam dizer na sua. O rei fez-lhe outra pergunta: - Quantas vezes te ardeu a casa? - Já, senhor, por duas vezes. - E quantas vezes contas ser depenado? - Ainda me faltam três vezes. Mais pasmados ficaram os conselheiros; o rei disse para o velho: - Pois se cá te vierem três patos, depena-os tu. - Depenarei, real senhor, porque assim o manda. O rei seguiu o seu caminho a mofar da sabedoria dos conselheiros, e que os ia despedir do seu serviço se lhe não soubessem explicar a conversa que tivera com o velho. Eles, querendo campar por espertos, foram ter com o velho para explicar a conversa; o velho respondeu: - Explico tudo, mas só se se despirem e me derem o dinheiro que trazem. Não tiveram outro remédio senão obedecer; o velho disse: - Olhem: «Muita neve cai na serra», é porque eu estou cheio de cabelos brancos; «já é tempo dela», é porque tenho idade para isso. «Quantas vezes me ardeu a casa?» é porque diz lá o ditado: «Quantas vezes te ardeu a casa? Quantas casei a filha». E como já casei duas filhas sei o que isso custa. «E quantas vezes conto ser depenado?» é que ainda tenho três filhas solteiras e lá diz o outro: Quem casa filha Depenado fica. Agora os três patos que me mandou o rei são vossas mercês, que se despiram e me deram os fatos para explicar-lhes tudo. Os conselheiros do rei iam-se zangando, quando o rei apareceu, e disse que se eles quisessem voltar para o palácio vestidos que se haviam ali de obrigar a darem três dotes bons para o casamento das outras três filhas do velho lavrador. (Teófilo Braga, Contos Tradicionais do Povo Português) (url)
© José Pacheco Pereira
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