ABRUPTO

3.6.11


COISAS DA SÁBADO:  PARABÉNS AO PEDRO TADEU

O jornalista do Diário de Notícias Pedro Tadeu deu um exemplo aos seus colegas de profissão, dizendo, num artigo intitulado “factos que o leitor destes textos deve saber”, que era militante do PCP há vinte anos, votou e vai votar na CDU, e não queria nenhuma confusão dos seus leitores nessa matéria. É algo que me parece saudável, em particular em alguém que escreve textos de opinião na condição de jornalista, o que é substancialmente diferente de encontrar, tratar e publicar notícias, dentro do trabalho colectivo do jornal, que implica outro tipo de normas com carácter profissional. Depois, há os que são bons, com cartão ou sem ele, e os que são maus, com cartão ou sem ele.

Quando a fidelidade da pessoa é a uma ideia, a uma política, e não a um lugar, ou a uma carreira, real ou expectável, nenhum mal vem daí, nenhuma perda de valor, na medida em que ninguém é asséptico e ter posições por convicção ganha em ser o mais transparente possível quanto ao modo e à configuração dessa convicção. Nessa configuração está, em democracia, a pertença a um partido político ou a um “lado” ideológico, e até a defesa de interesses sociais, o que também não faz mal a ninguém, bem pelo contrário.
A ele, como a ninguém, não existe nenhuma obrigação de se identificar politicamente, mas prefiro ler um artigo de opinião sabendo quem é que o escreve do que assistir a malabarismos de má fé para se prestar serviço a uma causa ou a uma homem ou a uma “situação”, sempre em nome de uma condição de jornalistas que se arrogam uma objectividade com valor de superioridade moral e de “isenção”.

No Diário de Notícias, o gesto de Pedro Tadeu é ainda mais de valorizar, porque aí a tradição do “situacionismo” é forte, vem de antes do 25 de Abril, passou pelo PREC, depois pelo socialismo soarista e por fim, na actual transumância do “socratismo” para o “passismo”, que começou ainda antes de Manuela Ferreira Leite cair, tornando áreas do jornal (felizmente não todas e nem com todos os jornalistas), em porta-vozes disfarçados dos novos poderes. Fazia-lhes bem seguirem o exemplo de Pedro Tadeu e explicarem-nos num qualquer artigo de opinião que são militantes activos em blogues de apoio a Passos Coelho, na campanha e no marketing do PSD, e que só um cego não percebe como isso tem a ver com o modo como escrevem, titulam, valorizam em fotos e enquadramento, a sua causa. É que se dá por isso muito bem, mas sem haver a transparência de o dizer aos leitores do jornal.

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© José Pacheco Pereira
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