ABRUPTO

17.6.11


COISAS DA SÁBADO: O CHEIO E O VAZIO


CHEIO: “LIBERTAR” O ESTADO NÃO É PERMITIR UM PRÉDIO DE VINTE ANDARES NA COSTA VICENTINA

A natureza da relação entre o poder económico e o poder político na era Sócrates não é a mesma na era Passos Coelho. O PS (como aliás o PSOE espanhol, o melhor exemplo) manteve sempre uma relação de grande cumplicidade com os interesses económicos e vice-versa. Os bancos e os grandes grupos empresariais (salvo as honrosas excepções conhecidas) faziam parte da espinha dorsal do “socratismo”, que ajudaram a chegar ao poder, elogiaram, apoiaram e, por sua conta, combateram a oposição que o PSD lhe fez, quando a fez. Protegeram Sócrates de tudo que podiam proteger, até quase aos últimos dias em que o deixaram só. Um segundo nível de protecção foi dado pelas empresas ligadas ao estado, seja por via da golden share, seja pelas nomeações para a administração de comissários políticos, seja por mil e outras maneiras. Na questão da TVI e do seu controlo, encobriram e mentiram por ele, para o proteger.

Mas, onde antes estava cumplicidade entre diferentes, que o PS geria ao modo jacobino e o poder económico ao modo dos interesses, agora há uma “comunidade”, uma proximidade que pode pôr em risco a autonomia e a supremacia democrática do poder político em relação ao poder económico. À identidade de ideias e experiências, soma-se a perigosa tentação de que tudo se justifica pela necessidade de “crescimento económico”. Temo por isso que um estado que já tinha feito da regulação uma caricatura (veja-se o caso do Banco de Portugal e dos combustíveis), entre agora num processo de desregulação que nos coloque nas mãos dos mesmos que andaram atrás de Sócrates, só que mais “soltos”.

(Continua.)

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© José Pacheco Pereira
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