ABRUPTO

14.5.11


COISAS DA SÁBADO: UMA DEMOCRACIA SUSPENSA 

As implicações da nossa situação actual ainda estão longe de serem percebidas em toda a sua profundidade. Como vivemos no domínio da pura escassez, ou seja da economia, o debate tem-se centrado na economia. Mas muitas dessas implicações são do domínio estrito do político e estão muito para além do jogo partidário e do processo eleitoral, envolvem questões de democracia e de soberania interligadas. Os efeitos serão devastadores, a prazo, e muitas das disfunções da nossa vida política conhecerão novos desenvolvimentos e novas formas que se podem antever, mas cujo mix, - vejam lá esta linguagem dos novos tempos! -, está longe se poder prever.

Começo por não perceber o espanto que muitos mostram com o facto de a delegação FMI-BCE-EU ter feito tão facilmente um “programa de governo”, que parece razoável, tecnicamente perfeito e acolhendo reformas de há muito pedidas por vários sectores da opinião pública. (Uma nota de passagem que fica para outra altura desenvolver: o programa não é assim tão perfeito, tem muita coisa puramente abstracta e muita outra impossível de aplicar nos prazos devidos, como se verá.) 

A pergunta que por aí se faz, e que tem pouca inocência, é; como é que estes tecnocratas chegaram cá e em quinze dias dotam o país de um programa de governo que os partidos políticos nunca conseguiram fazer? A resposta é muito simples: eles não vão a votos, e os partidos e os políticos vão a votos. Eles podem propor soluções by the book, porque têm o poder de mandar sem perturbações “democráticas”, não precisam de cuidar dos efeitos, apenas precisam de garantir que Portugal passa a ter um “governo de competências” porque é forçado a tê-lo. Quem não tem dinheiro não tem vícios e a democracia em Portugal, na Itália, na Grécia é um luxo. A Irlanda é outra coisa, porque são dos nossos.

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© José Pacheco Pereira
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