ABRUPTO

28.5.11


COISAS DA SÁBADO: STRAUSS-KANH E SCHWARZENEGGER

Nos EUA, os casos de Strauss-Kahn e de Arnold Schwarzenegger são tratados nos noticiários e nos talk e reality shows como se fossem uma e a mesma coisa: um violou a empregada do hotel, outro enganou a mulher e fez um filho numa empregada doméstica e parece que outros existirão. Uma capa da Times explora a palavra que muitas comentadoras femininas na televisão usam: os homens no que diz respeito às mulheres são “pigs”. E acrescentam, sem desprimor para os porcos.

Primeiro, misturar estes dois casos é absurdo, a não ser que de facto se considere que ser homem implica uma compulsão incontrolada para o assalto sexual, com mais ou menos violência, com mais ou menos dolo, mas social e eticamente criminosa. Segundo, um eventual crime é comparado com o maior dos à vontades com um caso de infidelidade conjugal, que, pelos vistos, é também para o “povo” um crime. Terceiro, os americanos genuinamente odeiam os franceses, e basta um caso como o de Strauss-Kahn para lhes saltar a tampa. Quarto, isso da presunção da inocência é uma abstracção pelo menos até chegar aos juízes. Para polícias, comentadores, “povo” em geral, é absolutamente indiferente saber se Strauss-Kahn é culpado ou inocente, mas faça-se a justiça de considerar que não o é para os juízes americanos, cujos tribunais tem uma sólida tradição de levarem muito a sério esse princípio. Quarto, ser rico, andar na primeira classe dos aviões, ficar em hotéis de luxo, ser “poderoso”, nestes períodos de empobrecimento (milhões de americanos perderam a casa própria) é também um crime social. É este “crime” que justifica aos olhos de muitos a especial exibição dos “poderosos” no “perp walk”, nas algemas e toda a encenação da humilhação que só é relevante em termos públicos nestes casos. Quinto, a hipocrisia moral no caso de Schwarzenegger chega a ter tons totalitários e mesmo que Schwarzenegger tenha para isso contribuído, é insuportável de ver, como o é, a perseguição da senhora de que tem um filho (by the way, Marx também tinha um filho da sua empregada doméstica, e Jefferson tinha vários de uma sua escrava) e que caiu na asneira de ter uma página do Facebook, onde a comunicação social foi buscar fotografias.

É nestas alturas em que me sinto mais longe de um país e dum povo que muito estimo e admiro.

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© José Pacheco Pereira
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