ABRUPTO

2.4.11


COISAS DA SÁBADO
A CAMPANHA QUE SE VAI FAZER ENQUANTO CAÍMOS NO ABISMO


PS – Tem a linha mais clara de orientação em campanha: nós somos patriotas e eles querem os estrangeiros a dominar no nosso país. Nós estávamos a fazer tudo bem, até que a “irresponsabilidade” trouxe raios e coriscos sobre as nossas cabeças. Porque é que “eles” querem o estrangeiro? Porque assim a culpa das medidas “liberais” e dos seus efeitos (privatizações, despedimentos, cortes de salários e pensões) será do FMI e não do PSD. E depois, vem o resto: o PSD quer acabar com a saúde para todos, com a escola pública, despedir milhares de trabalhadores, pôr na rua os funcionários públicos, etc., etc.
A campanha do PS tem gigantescos óbices, - a começar por ter que responder pela governação - mas o PS vai fazê-la a partir do que acontecerá desde a queda do governo, esquecendo o antes. E, como vários cataclismos vão acontecer, eles funcionarão a favor do esquecimento. E, depois, se há coisa em que Sócrates é bom é nisto.

PSD – Como fará campanha? Não sei e ainda não percebi. Reconheço que será, do ponto de vista discursivo, uma campanha muito difícil, em que o que move o voto contra o PS (a monumental recusa de Sócrates) será sempre prejudicado pelo avançar de qualquer medida por parte do PSD. Estas, a serem sérias, serão também de austeridade. Do ponto de vista político, a campanha deveria ser o confronto de dois programas de austeridade, que se presume serem diferentes, mas duvido que o vá ser. Nem sequer será Passos Coelho versus Sócrates. Será metade dos portugueses versus Sócrates, sendo o PSD instrumental.

CDS - Vai dizer o que quer e atacar o PSD. Sabe que sempre terá um lugar numa futura coligação e, por isso, tentará evitar qualquer bipolarização PS-PSD e crescer. É o partido que vai para a campanha em melhores condições, até porque as criou para si próprio.

PCP – O PCP vive numa espécie de limbo histórico onde o tempo penetra de forma muito módica. Só a “lei da vida”, ou seja, a morte, o vai moldando pouco a pouco. Por isso, o PCP vai para a campanha eleitoral como sempre vai, com o mesmo programa de sempre, um programa não isento de alguma eficácia residual. Partido da “indústria nacional”, dos “campos portugueses”, da pesca e das minas portuguesas, conduziu de há muito uma resistência contra a modernização da economia, em nome do “aparelho produtivo”. E essa resistência parece ser vingada pelo retorno ao discurso de “produzir português” suscitado pela crise. Mas duvido que o PCP tire vantagens dessas mudanças, que serão demasiado lentas, se forem. Insisto: se forem.

BE – As eleições serão difíceis para o BE, que está muito cercado política e eleitoralmente. Se não houver voto útil, e o PS fará tudo para que haja, o BE pode apelar a algum “coração” radical de esquerda. Mas esse cenário de não haver voto útil ( a favor e contra Sócrates) seria o de uma desagregação grande do sistema político e aí o BE competirá com o voto branco ou com a abstenção “contra os políticos”.

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© José Pacheco Pereira
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