ABRUPTO

26.9.10


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: A SURPRESA

Amy Knight, How the Cold War Began: The Igor Gouzenko Affair and the Hunt for Soviet Spies, Nova Iorque, Carroll & Graf Publishers, 2006

Quando Igor Gouzenko, um funcionário secundário do NKVD da Embaixada da URSS no Canadá, que trabalhava num sector crucial, a cifra, se apresentou em 1945 à Royal Canadian Mounted Police (RCMP),  abriu uma caixa de Pandora que nunca mais se fechou até hoje. Gouzenko contou a uma surpreendida RCMP que havia uma rede de espionagem que se estendia do Canadá aos EUA e ao Reino Unido, e que envolvia segredos atómicos. Os canadianos estavam particularmente pouco preparados e pouco dispostos a entrarem em conflito com o seu  aliado soviético, pelo que protelaram, hesitaram e só actuaram quando já não podiam de todo ignorar o que se passava. As informações de Gouzenko chegaram ao FBI e estiveram na origem da "caça às bruxas" americana na primeira metade da década de cinquenta.
 
A história é interessante, mas o livro de Amy Knight não é. Knight preocupa-se mais em minimizar a relevância das revelações de Gouzenko, a questionar os seus motivos e a criticar os excessos do macarthismo, numa linha da historiografia americana centrada no polémica sobre a culpabilidade de Alger Hiss (negando-a).  Essa intenção transparece demasiado no relato muito preconceituoso sobre Gouzenko. Gouzenko, como aconteceu com muitos espiões soviéticos, acabou por se tornar num desertor profissional, vivendo das suas entrevistas e da contínua promessa de novas revelações. Mas o núcleo de informações iniciais, assim como as notas e os documentos que trouxe, foram particularmente relevantes numa altura em que a dimensão e a penetração das redes soviéticas eram desconhecidas

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© José Pacheco Pereira
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