ABRUPTO

24.9.10


COISAS DA SÁBADO: ESTAMOS CADA VEZ PIOR, MAS ISSO É MUITO SATISFATÓRIO



Se não fosse estarmos todos um pouco aturdidos com a realidade, quer a realidade-realidade, quer a realidade pressuposta, imaginada, suspeitada, indesejada, por aí adiante, dávamos um salto de revolta quando ouvimos um governante dizer-nos que numa altura em que é imperativo poupar e muito, cortar despesas e muito, apertar o cinto e muito, o aumento das despesas e do défice nas contas do estado é “satisfatório”. É como se tivéssemos que ir de Lisboa para o Porto e ficarmos muito contentes por estarmos em Casablanca, a caminho de Nouakchott. Se isto não é, perdoe-se o plebeísmo, gozar connosco, não sei o que é gozar.

Mas o exemplo vem de cima, todos os dias o Primeiro-ministro manipula uma qualquer estatística para mentir. Umas vezes as comparações são feitas a dois anos, outras a sete, outras a vinte, outras com a Alemanha outras com o Burkina Fasso, é conforme convém. Destes anos de lixo que atravessamos, vai ficar um dos melhores exemplos de uma “novilíngua” governamental, em que nada significa o que significa, em que a duplicidade se tornou o coração da palavra, e em que o significado é varrido pela manipulação. A crise, na verdade, está muito para além das finanças, está no cerne de uma geração obcecada pelo poder, sem valores nem saber, que é capaz de tudo para nos enganar contra todas as evidências. Quem não engana é quem nos tem que emprestar dinheiro e não vai nestes “satisfatórios”

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© José Pacheco Pereira
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