ABRUPTO

7.8.10


COISAS DA SÁBADO:  
ALGUÉM ME EXPLICA O QUE SE PASSA COM O MINISTÉRIO PÚBLICO? (2)

Depois a confusão instalou-se, com o PGR a pedir mais um inquérito ao inquérito (se a memória me não falha, não havia já um para se saber por que razões tudo tinha estado parado entre 2005 e 2009?) e logo a seguir a dar uma entrevista em que se compara à Rainha de Inglaterra. Embora a comparação seja perversa, porque a Rainha de Inglaterra tem muito mais poder do que aquele que lhe é comummente atribuído, eu sempre pensei que o PGR era dos homens com mais poder em Portugal. De novo, não percebo nada, porque ninguém diz aquilo que efectivamente pensa e muito menos faz corresponder os seus actos à responsabilidade que tem.

Na verdade, o pano de fundo de tudo isto é uma mistura nunca inteiramente elucidada de decisões e contra-decisões com origem no chamado “caso Casa Pia”. Foi aí que no PS se começou a desenvolver uma “teoria da cabala” contra o Ministério Público e foi também aí que se começaram a mover muitas influências, nem sempre transparentes, como é o caso da Maçonaria. Verdade seja dita que, do lado do Ministério Público, começou também a crescer um justicialismo inadmissível, empurrado pelo populismo, com a tentativa de fazer uma espécie de pesca de arrasto sobre todos os políticos a pretexto do caso Casa Pia. Por isso, havia nos dois lados uma deriva perigosa, que, apenas com raras excepções, nunca foi publicamente discutida como devia. Resultou daí um ambiente malsão, em que por via da legislação se tentou evitar aquilo que era entendido como os “abusos” do caso Casa Pia (que existiam de facto), mas criando condições que vieram a afectar a investigação dos crimes que envolvem os titulares dos casos políticos e alguns crimes de “colarinho branco”.A desconfiança mútua feita de acusações surdas, em particular entre o PS, que tem uma forte presença na “justiça”, e os magistrados do Ministério Público, continua com a força poderosa que tem o ressentimento. Esse conflito centra-se muitas vezes no próprio PGR, cuja nomeação política o coloca num sistema de obrigações e dependências complexo. E por isso, passamos a ter uma guerra endémica feita tanto de fugas de informação, que destroem reputações com a facilidade de uma capa de jornal matinal, como de excessivo zelo na protecção aos políticos, como o que se tem passado com José Sócrates no Freeport e quanto ao eventual abuso de poder no “caso TVI”. E é esta guerra, entre cabalas de parte a parte, que vem ao de cima com epicentro no PGR que se classifica de “Rainha de Inglaterra”, que é o mesmo que dizer que faz parte do problema e não da solução, se é que a há.

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© José Pacheco Pereira
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