ABRUPTO

20.3.10


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: TANTA SEGURANÇA PARA NADA

Ronald J. Olive, Capturing Jonathan Pollard: How One of the Most Notorious Spies in American History Was Brought to Justice, Annapolis, Md., Naval Institute Press, 2006.

É difícil haver história mais banal de espionagem. Um empregado de segunda linha numa agência de intelligence da Marinha, tido como um analista capaz, mas sem brilhantismo, tentou vender os segredos a que tinha acesso a uma série de países, tendo apenas conseguido convencer Israel, a sua primeira opção de venda, a comprá-los. Israel, apesar de serem os EUA o seu aliado preferencial, não hesitou em comprá-los, o que deu origem a um sério embaraço nas relações entre os dois países quando se descobriu o acto de espionagem. Ainda hoje alguns agentes israelitas que não tinham cobertura diplomática não podem ir aos EUA sob pena de ficarem presos. E, ainda hoje, Pollard permanece preso, tendo sido inúteis todas as campanhas contra a sua pena de prisão perpétua.

O que surpreende nesta história é a banalidade e a facilidade de Pollard em passar por cima de todas as medidas de segurança que era suposto existirem no manuseamento de documentos tão sensíveis. Tendo acesso aos maiores e mais classificados segredos militares, saía com eles numa pasta, levava-os para casa ou para um apartamento alugado pelos israelitas, onde eram fotocopiados, quando era suposto serem devolvidos os originais. Noutros casos seguiam directamente para Telavive. Nenhum esquema especial, nenhuma ocultação, apenas imprimi-los, ou tirar notas, sair com os papéis e voltar com eles. Os israelitas queriam saber sobre os sistemas de armas dos seus adversários árabes, defesas aéreas, especificações dos aviões, fotografias operacionais, e diziam a Pollard que não valia a pena trazer nada sobre os grupos terroristas anti-israelitas ou sobre os palestinianos. Pelos vistos, não tinham grande consideração pela informação americana.

Com a mesma banalidade, Pollard é visto fora das instalações onde trabalhava, com papéis altamente classificados, por um colega que chamou a atenção da segurança (nestas coisas nunca se sabe se foi mesmo assim, mas tudo indica que sim). Esta, após a habitual hesitação inicial, não teve qualquer dificuldade em apanhá-lo a esconder papéis na sua secretária e em seguir os seus traços. Preso, Pollard confessou, alegando que se considerava um soldado israelita no campo de batalha. Parece nunca ter esperado ser abandonado pelos israelitas e ser condenado a prisão perpétua. Hoje, da cadeia, anima algumas campanhas pela sua libertação em Israel e na comunidade judia americana, mas sem grandes resultados. O que ele entregou aos israelitas é considerado, pelo seu valor, uma das maiores quebras de segurança da intelligence americana, mas dificilmente Pollard ficará na tumultuosa história da espionagem,

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© José Pacheco Pereira
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