ABRUPTO

20.2.10


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (119): ESTRANHA COMPLACÊNCIA



A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Quanto mais leio sobre o que se vai sabendo das tentativas governamentais e socialistas de desenvolverem uma grande operação de controlo dos media no ano eleitoral de 2009, utilizando abusivamente recursos públicos e o próprio poder político directo, pelo menos no limiar do crime, mas bem dentro do abuso do poder e no exercício de uma manipulação flagrante da opinião pública em ano eleitoral, mais me surpreende a enorme complacência que muitos jornalistas mostram perante o que se passou. Surpreende-me a enorme facilidade com que gozam e ridicularizam colegas seus que, umas vezes pior ou melhor, conforme a sua facilidade de expressão e idiossincrasias próprias, denunciam pressões de que foram sujeitos, e a sistemática minimização de algo de muito mais sério do que qualquer tentativa do passado.

Há muitas razões para essa complacência, nenhuma boa. Muitos jornalistas, nestes momentos de confrontação política, alinham pelas suas simpatias e são selectivos nas suas indignações (se fosse Jardim o alvo quantos editoriais inflamados já teriam sido escritos?), o que não é novidade. Mas há mais: a crescente promiscuidade entre os jornalistas que estão no topo da hierarquia dos seus orgãos de comunicação e as administrações desses órgãos, fazendo coincidir "linhas editoriais" com posições e interesses dos proprietários ou, no caso da comunicação social pública, com o governo que em última instância, escolhe e nomeia. E por fim, mas não menos importante, há jornalistas directamente envolvidos em todo este processo, a quem foi pedido que controlassem os estragos do que se ia sabendo e que moldassem a informação aos interesses do poder político, e, apesar desses pedidos serem inaceitáveis legal e deontologicamente, nunca os denunciaram nos seus jornais, tornando-se cúmplices do que aconteceu. Nada do que aconteceu teria sido possível sem a colaboração de jornalistas, principalmente nas chefias dos órgãos de comunicação social e nas redacções. Por isso, o que aconteceu em 2009, é tão incómodo para o governo e Sócrates como o é para muitos jornalistas.

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© José Pacheco Pereira
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