ABRUPTO

1.1.10


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (110):
A MÁQUINA A FUNCIONAR



A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Mal acabou o Presidente de falar a máquina começou de imediato a funcionar.

O Presidente fez uma intervenção fortemente crítica do governo. Onde o governo vê apenas problemas de percurso, o Presidente viu urgência e emergência. Onde o governo ignora a dívida, o Presidente nomeia-a como um grande problema nacional. Onde o governo (o Primeiro-ministro) anuncia boas novas para 2010, o Presidente previne para as dificuldades. Onde o governo fala de aumentar o investimento público, o Presidente fala de pôr cobro ao descontrolo das contas públicas. Onde o governo se prepara para avançar com o casamento dos homossexuais, o Presidente fala de distracções secundárias e valoriza a família. Tudo o que o governo valoriza, o Presidente secundariza ou ignora. Não podia haver maior contraste, e contraste mais evidente. Só por pura má fé e manipulação é que não se chega a esta conclusão, mas...

... a máquina transforma logo o discurso numa peça salomónica: o Presidente critica governo e critica oposição. Nalguns casos mais facciosos, o Presidente critica apenas a oposição e força-a a aprovar o Orçamento. Uma pequena palavrinha do Presidente é sempre iludida: este pediu à oposição para comparticipar no esforço de controlo orçamental, mas quem garante que o orçamento contém esse esforço de controlo? Ninguém, mas também ninguém quer saber do conteúdo do orçamento. A linha é: a oposição (na verdade o PSD) tem que apoiar o orçamento seja ele qual for. E se o orçamento prossegue e reforça as mesmas políticas que o Presidente acabou de criticar duramente?

É tão curioso ver a máquina a funcionar...

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© José Pacheco Pereira
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