ABRUPTO

12.12.09


COISAS DA SÁBADO:
CHEGADOS AO IMPASSE, ONDE É QUE ESTÁ A VONTADE DA MUDANÇA?



Existe um impasse na vida política portuguesa? Existe. E não adianta andar numa chuva de acusações aos “políticos” pela sua “irresponsabilidade”, porque bem vistas as coisas, ninguém vota nos políticos que podiam fazer a diferença, a comunicação social abate-os para gaúdio dos piores, e ninguém, a começar pelos portugueses, está disposto a votar em soluções que impliquem risco e dificuldades. A situação actual é um bom espelho disso mesmo: os portugueses quiseram um PS sem maioria, dois partidos tribunícios a crescer e a única alternativa do governo enfraquecida. Ou seja, os portugueses quiseram protestar mesmo que isso significasse a ingovernabilidade. E quiseram-no muito conscientemente, porque a situação actual foi desejada pelo eleitorado, até muito racionalmente. Querem um Estado que continue a dar-lhes o que tem e o que não tem (votaram no PS), querem palco para as críticas demagógicas e populistas em que se reconhecem (votaram no PP e no BE) e não querem ninguém a mandar muito, porque, se querem estado máximo, querem governo mínimo (e por isso retiraram a maioria ao PS).

Os portugueses sabem que estão metidos num grande sarilho e que as coisas vão piorar, mas preferem as dificuldades que se manifestam de mansinho, o caminho lento para a mediocridade ou para manter a mediocridade, preferem a velha manha camponesa da sobrevivência com os seus mil e um pequenos truques, aprendidos de geração em geração. Não acreditam em nenhuma luz ao fundo do túnel, mas habituaram-se ao túnel e preferem estar como estão a arriscar. Não se lhes pode levar muito a mal, porque como a memória da pobreza é ainda muito recente, o “partido do estado” e os seus subsídios e gratuitidades, o mundo da cunha, da habilidade e do patrocinato, ainda lhes parecem mais eficazes do que correrem qualquer risco cujas consequências desconhecem.

Para além do mais, muitos sabem que os políticos que têm são demasiado parecidos consigo próprios e, mesmo que não o admitam e fumeguem contra a “política”, não querem mudanças. O problema fundamental do impasse português dos dias de hoje é que, estando-se a esgotar o modelo de viver acima da sua própria riqueza, que aguentou os últimos trinta anos, não há forças para a mudança que se exige contra o seu esgotamento. As pessoas acham que não fazendo muitas ondas, podem ainda passar uns anos mais ou menos como estão e que, no futuro, estamos todos mortos. Os portugueses não querem a mudança, esta meus amigos, é a razão fundamental dos impasses todos que cada vez mais bloqueiam tudo: a economia, a justiça, o emprego, a política.

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© José Pacheco Pereira
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