ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
|
14.11.09
O Muro de Berlim é um símbolo de uma divisão que só existia porque havia força bruta, tanques e mísseis, polícias, KGB e STASI, para a manter: os alemães foram divididos não porque o desejassem, uns à esquerda para o Leste, uns à direita para o Oeste, mas sim porque o Exército Vermelho conquistou Berlim em 1945 e lá ficou até depois de 1989. Puro e simples: o exemplo orwelliano da República Democrática Alemã, que não era nem República, nem Democrática, nem Alemã, a “república de Pankow” como lhe chamavam os sinistros “propagandistas da guerra”, belicistas que não aceitavam a inevitabilidade do Muro.
Mas o Muro de Berlim é também o símbolo da acomodação ocidental, principalmente europeia, principalmente socialista, principalmente conservadora, que achava que a realidade da divisão era incontestável e tinha que se viver com isso. Foi preciso um Presidente americano, o actor burro da série B, um electricista polaco católico e anti comunista e provavelmente agente da CIA, e um Papa reaccionário, “mariano”, também ele polaco e anti comunista à antiga, para deitarem abaixo a coisa. Depois foi preciso um rotundo reaccionário alemão, a “couve”, para forçar a “reunificação”, contra tudo e contra todos, inclusive contra os brilhantes democratas do SPD, como Willy Brandt, autor da “Ost Politik” que caiu com o Muro. Tudo isto aconteceu apesar de e contra uma intelligentsia europeia, muito bem representada em Portugal, que queria um outro socialismo que não o do PCP, mas tremia só de pensar em ser chamada de anti comunista. Ser antifascista era um cartão de glória e ser anti comunista era sempre ser-se “primário”, inaceitável em quem queria ter pruridos intelectuais e não passar por agente da CIA. Isto, meus amigos, em finais da década de oitenta, muito depois do PREC. Vejam lá, os que tem idade para isso, quantos alguma vez mostraram alguma repulsa activa pelo mundo comunista, algum apoio aos “dissidentes” soviéticos, alguma forma de combate político à URSS e ao sistema comunista mundial? Depois do 25 de Abril, um punhado de gente, Mário Soares, honra lhe seja feita, Sá Carneiro que colaborou com os maoístas em realizações contra o “social-imperialismo”, alguns sindicalistas que sabiam o que era a violência do controlo dos comunistas nas fábricas, e alguns maoístas, ou ex-maoístas que se caracterizavam por não ter qualquer temor reverencial com o PCP e os soviéticos. Eu sei que agora toda a gente esteve contra o Muro, numa daquelas reconstruções da memória em que a comunicação social é fértil. Mas não é verdade. (url)
© José Pacheco Pereira
|