ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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9.10.09
COISAS DA SÁBADO: O ATAQUE AO PRESIDENTE: UM “PREEMPTIVE STRIKE”
Eu não tenho dúvidas que o Presidente da República saiu fragilizado de toda esta história das “escutas”, de que, valha a verdade, ele nunca falou. Foi tudo mal conduzido e muito atrapalhado. Mas não é isso o mais importante, porque isso tem apenas a ver com a condução do assunto e não com o seu fundo, a saber, por que razão o Presidente foi atacado como foi, no momento em que o foi e do modo como foi? Vamos admitir que o PS, naqueles dias da operação Diário de Notícias, já tinha uma convicção consolidada de que iria ganhar as eleições, só não sabia por quantos. Sabia que a vitória nas urnas não significava que o partido saía melhor das eleições enquanto partido de governo. Sabia que iria sair do resultado eleitoral enfraquecido na sua capacidade de governar, o que se para Guterres e o seu estilo não era um grande problema, para Sócrates é um enormíssimo problema. Ele viveu de criar uma imagem de autoridade e decisão, contra tudo e contra todos, e agora tem que negociar quase tudo. Duvido que durma bem com essa hipótese e com problemas que não podem ser resolvidos atirando o telemóvel ao ar e berrando com a multidão dos seus assessores. Não. Agora as coisas são muito mais complicadas para Sócrates e um dos aspectos dessa complicação chama-se Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República. José Sócrates sabe, melhor do que nós todos, que o Presidente não confia nele, nem enquanto pessoa, nem enquanto governante, mas que em democracia isso não é razão para impedir a indigitação. Mas sabe que o Presidente não aceita todos os cenários aritmeticamente possíveis para governar, todas as soluções no papel, todas as composições do governo. Como aliás não fizeram Jorge Sampaio, nem Mário Soares. Porque o Presidente tem poderes próprios e legitimidade política própria. E não sabe muito bem o que aí vem, seja no caso Freeport, seja nos outros processos em que o seu nome está envolvido, seja no que se vai saber depois das eleições, e que se devia ter sabido antes, sobre a verdadeira situação económica e social do país. Sabe que vai receber do governo anterior, por singular azar seu, uma pesadíssima herança de promessas e uma série de apoios em curso, por coincidência, terminando em Outubro… Sabe tudo isto e teme o Presidente, cujo poder, na actual situação, aumenta. E sabe que o Presidente não é “comprável” pela sua reeleição. Por isso tudo uma “preemptive strike” que fragilizasse o Presidente era necessária, Foi o que a “operação Diário de Notícias” fez, com algum êxito, diga-se de passagem. (url)
© José Pacheco Pereira
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