ABRUPTO

22.9.09


PARA SE PERCEBER A “ASFIXIA DEMOCRÁTICA”



Um trabalho de Vasco Ribeiro, a que o Público fez referência há dias, lança uma luz particularmente preocupante sobre o jornalismo português. Nele se escreve, citando o Público, que
mais de 60 por cento do noticiário é induzido por assessores de imprensa, relações-públicas, consultores de comunicação, porta-vozes. Não cabem aqui apenas comunicados de imprensa e conferências de imprensa. A categoria abrange actos como acções de campanha, assembleias, cerimónias oficiais, eleições, inaugurações, visitas oficiais, manifestações, sondagens... Vasco Ribeiro sublinha a "incapacidade" de os leitores detectarem a intervenção de tais técnicos de comunicação e relações públicas. É que só muito raramente surge qualquer referência à sua existência (1,3 por cento das notícias analisadas). Eles "não gostam" de aparecer. E os jornalistas não gostam de os mostrar.
Numa altura em que máquina de desinformação governamental e do PS está a funcionar em pleno, sem a capacidade dos leitores “detectarem a intervenção de tais técnicos de comunicação e relações públicas”, estes dados mostram como muito pouca coisa acontece como acontece, mas como é “induzido por assessores de imprensa, relações-públicas, consultores de comunicação, porta-vozes”. Hoje que o governo, as empresas públicas e o PS contratam quase todas as grandes empresas deste tipo, que grau de fiabilidade pode existir na comunicação? Como é que eu explico que duas notícias exactamente do mesmo tipo, uma sobre o PS e outra sobre o PSD, uma esteja na décima quinta página de um jornal e outra abra os telejornais? E ainda por cima se somarmos a isto operações mais sofisticadas de manipulação, que se detectam há muito nos blogues, vindas de assessores governamentais, há razões para dizer que falta ar.

Falta cada vez mais ar, o ar da liberdade.

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© José Pacheco Pereira
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