ABRUPTO

16.9.09


COISAS DA SÁBADO:
PODIA-SE CONHECER POR OUTRA VIA ALGUMAS DAS NOTÍCIAS DADAS PELO JORNAL NACIONAL DA TVI? PODIA, SÓ QUE NÃO É MESMA COISA.




Há benefício do infractor? Claro que há. O que é que muda sem o Jornal Nacional da TVI? Muita coisa e em tempo útil, ou seja a tempo de evitar alguns problemas numa campanha eleitoral que se decide por milímetros.

É que não é a mesma coisa dar notícias incómodas para o governo e não as dar. E o Jornal da TVI dava-as e nunca foi desmentido na factualidade dessas notícias. O problema nunca foi o estilo de Manuela Moura Guedes, mas sim as notícias que ela dava. Quem quiser fazer a confusão com o secundário, que a faça. Mas, quantas televisões passariam o DVD de Charles Smith? A RTP com certeza que não. Por razões deontológicas? Duvido, porque quando se trata de matérias que não tem qualquer sensibilidade política não se coíbem de passar coisas bem piores. Por exemplo, a RTP esta semana entrevistou uma criança, a menina que a mãe levou para a Rússia, em violação de qualquer código deontológico. Com certeza o critério de interesse público mais que justificava que se conhecesse o conteúdo do DVD, falsíssimas que sejam as acusações, porque existe e tem um papel central numa investigação policial envolvendo actos públicos. Alguém imagina que a CNN o não passasse, ou a BBC? Os jornalistas da casa fariam um levantamento. Cá, quem dá notícias é penalizado.

É que não é a mesma coisa pegar numa notícia (sobre o caso Freeport por exemplo) e fazer jornalismo de investigação, ir aos arquivos, ver quem são as pessoas (foi assim que se identificou um grupo de pessoas que gravitam sempre à volta de tudo, da Universidade Independente aos processos do concurso e adjudicação da obra da central de tratamento de lixo da Cova da Beira, etc,, etc.), fazer perguntas concretas aos envolvidos (foi o que produziu o “tio” e as suas declarações), tentar obter esclarecimentos adicionais, etc, ou seja, ser proactivo com a notícia, ou dá-la com tantos “alegados” por metro quadrado que mesmo quando aparece o “tio” se imagina o “alegado tio”.

É que não é a mesma coisa colocar uma notícia sobre um caso deste tipo a abrir um telejornal, ou escondida numa parte menor do alinhamento de um telejornal, quando já não se pode deixar de falar disso, como fez no início do caso Freeport a RTP. É a mesma notícia, mas não tem o mesmo impacto, a própria televisão a desvaloriza. E depois evitar a todo o custo discuti-la. Lembram-se do Prós e Contras que foi feito a “pretexto” do caso Freeport? Tudo alcatifado, tudo ao lado, tudo sem as perguntas certas, nem com os intervenientes que podiam dar as respostas mais esclarecedoras. Mais para matar o caso do que para o analisar. Ora, em todas as televisões de uma democracia o caso Freeport, por exemplo, abriria sempre os noticiários, seria objecto de análises exaustivas e efectivamente contraditórias.

O Jornal Nacional da TVI tinha muito espalhafato? Tinha, mas tinha as notícias certas no lugar certo do alinhamento. Foi por isso que acabou.

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© José Pacheco Pereira
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