ABRUPTO

4.9.09


COISAS DA SÁBADO: O QUE SWIFT VERIA

Jonathan Swift se pudesse voltar do reino das sombras para este nosso Portugal escreveria certamente coisas sinistras sobre nós. Não sei se nos trataria como liliputianos ou brobdingnaguianos, mas não seria brilhante a descrição. Encontraria um país cansado, uma democracia cansada, um povo sem esperança, uma nação sem expectativas nem sentido do destino. Encontraria uma espessa teia de interesses individuais e de grupo, tão entretecidos e tão acomodados que deslaçar um só, dá uma pequena guerra civil. Encontraria um grupo de políticos na defensiva, sem respeito por si próprios, acossados por jornalistas malcriados e por uma irritação colectiva atiçada por boas e más razões. E no entanto, convém lembrar porque o esquecimento é muito, que, há cinco anos, a sensação era muito diferente. José Sócrates foi recebido com muita expectativa e o eleitorado deu-lhe condições excepcionais de governação. Deu-lhe uma maioria absoluta sólida, enfraqueceu até ao limite a oposição, e, mais tarde, um presidente “cooperador” facilitou a governação.

Depois foi o desastre e o plano inclinado para a situação em que estamos hoje. E não foi a crise que a gerou, porque o ambiente de hoje já existia antes da crise, exactamente nos mesmos termos, numa dimensão da mesma irritação, embora talvez menos depressiva. Não foi o destino nem as Parcas, foi mesmo obra humana.

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© José Pacheco Pereira
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