ABRUPTO

30.9.09


CAVEAT LECTOR (4): A CAIXA DE PANDORA



Será que os jornalistas do Diário de Notícias já perceberam que quando alguém souber da "fonte" que passou o email do Público, não terá a mais pequena hesitação em divulgá-la, agora que tal prática "deontológica" é defendida como boa pela direcção, redacção e provedor do Diário de Notícias? E acaso essa revelação não é de "interesse público", agora que o Presidente da República acusou o jornal de participar numa "manipulação" do PS?

Este é um caso típico da Caixa de Pandora.

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O que eu acho grave em termos jornalísticos (e o silêncio do Sindicato do Jornalistas ainda mais) é o precedente que se abre nas relações entre os órgãos de informação e entre estes e as suas fontes. Bettencourt Resendes acha legítimo, "em nome do interesse público", expor uma fonte de um outro órgão de informação - apesar de, ao mesmo tempo, se contentar com a resposta de João Marcelino, que indicou que "[...]Para além da 'fonte' junto da qual obtivemos os documentos, confirmámos, posteriormente, a sua autenticidade por uma outra 'fonte' que conhecia toda a documentação." (excerto retirado do artigo do Provedor do leitor do DN de 26 de Setembro). Ou seja, a interpretação do artigo 5 do Código Deontológico dos jornalistas depende da noção que cada um tem do que é "matéria de interesse público evidente". Num caso é legítimo, porque há interesse público evidente, expor uma fonte jornalística de um colega de profissão. Contudo, essa notícia em si baseia-se em "fontes" que já passam a ser anónimas, nesse caso já é legítimo manter o seu anonimato.

O precedente pode desembocar nesta questão: Passarão os "furos" jornalísticos a ser o rebentar de "furos" jornalísticos de outros colegas? Acima de tudo, mais do que invocar artigos de códigos deontológicos e pareceres de juristas, o que me fica na retina é uma falta de cortesia profissional entre membros de uma classe.

Ricardo Salbany Carvalho

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© José Pacheco Pereira
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