ABRUPTO

19.8.09




ESCRITO JÁ HÁ ALGUM TEMPO MAS CADA VEZ MAIS ACTUAL
(COM ACRESCENTO DE ALGUNS SUBLINHADOS)

Não sei se isto se pode dizer como se dizia do “socialismo real”: o “real” é muito mau, mas o socialismo é bom. Ou seja, os blogues são uma boa coisa, a blogosfera (política) está muito má. Má, intriguista, mesquinha, superficial, amiguista e revanchista, muito longe do país, que desconhece, muito longe da vida, que não vive, dominada por preocupações de carreira e sucesso, cheia dos vícios que tinha e tem o jornalismo, mais os das jotas. As excepções confirmam a regra, as vozes sensatas e limpas, sejam lá de que posição forem, de direita ou de esquerda, socialistas ou social-democratas, comunistas ou bloquistas, são cada vez menos, num ambiente dominado pela intriga e pela intriga intra-partidária. Hoje fazem-se blogues destinados a “colocar” pessoas sob a atenção dos partidos, e para “gerir carreiras” em base tribal, uma especialidade das jotas que antes era feita de forma mais rudimentar. Numa frase: os vícios das redacções e das jotas partidárias emigraram para os blogues políticos com imenso furor...

... e com grande complementaridade. Que aliás já há muito tinham, num contínuo entre políticos “a fazerem-se” no
tradeoff mediático e jornalistas no jogo da promoção de grupos de amigos dentro e fora das redacções. A isso há que somar o crescente papel que agências de comunicação e de marketing têm na blogosfera e nas suas duas ramificações mais na moda, o Twitter e o Facebook, fazendo “propaganda viral”, fazendo circular boatos e “interpretações”, sugerindo escritas e incentivando amizades e ódios. Nada disto é novo, existia em qualquer café de província, incluindo em Lisboa. A diferença é que muita gente é iludida pela novidade tecnológica do meio e esquece-se de que, na Rede, se se mete lixo, sai lixo.

Ah! e convém não esquecer
o trabalho dedicado e profissional de assessores governamentais que criam falsos blogues para disseminarem “análises”, boatos, informações escolhidas a dedo, dotados de arquivos e meios a que nenhum particular tem rápido acesso, como nenhum particular tem tempo para esse trabalho, 24 horas sem parar. E espero, espero mesmo, que não haja gente dos serviços de informação também nos combates blogosféricos, nas caixas de comentários, em blogues, usando todos os recursos e potencialidades da desinformação.

Isto pode parecer conspirativo, mas não é. Há muitos idiotas úteis nos blogues mas alguma gente sabe que é assim e que o segredo é a alma do negócio, porque, em muitos casos, é negócio mesmo. Mas o Muito Mentiroso, o primeiro blogue que fazia parte de uma operação de desinformação a pretexto do caso Casa Pia, deixou escola. E quem denuncia este “estado” da blogosfera política com clareza, ou seja, faz o exercício crítico que a blogosfera prometia nos seus inícios, é atacado por todos os lados. Se houvesse uma campainha como a que matava o Mandarim na longínqua China, haveria listas de espera para tilintar a sineta invisível. É sempre assim quando, mais do que uma selva de opiniões abertas, começa a existir uma selva de interesses disfarçados.

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© José Pacheco Pereira
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