ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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25.8.09
Notificou Moisés ao povo de Israel como tinha Deus resoluto que de ali por diante governasse um anjo, e diz o texto sagrado que, ouvida esta nova, «todo o povo se pôs a chorar em pranto desfeito e todos se cobriam de luto»: populus luxit, et nullus (...) indutus est cultu suo. Quem imaginaria de tal notícia tão encontrados efeitos? Antes parece que todos se haviam de vestir de gala e dar muitas graças a Deus por tal governador. Que melhor ;governador se podia desejar que um anjo? Um anjo que não come, nem veste, nem granjeia; um anjo que não tem parentes, nem criados, nem apetites; um anjo tão sábio e tão verdadeiro, que nem pode enganar, nem ser enganado, benévolo, afável sempre do bom rosto; enfim, um anjo? Pois se todas as outras nações se contentam ou sofrem ser governadas por homens «e os trazem sobre a cabeça»: Imposuisti homines super capita nostra; que razão teve o povo de Israel para receber com lágrimas e lutos a nova de o haver de governar um anjo? __ Muito grande razão. Porque até ali quem governava aquele povo era Deus por si mesmo; e suceder a Deus um anjo, não era favor, senão rigor; não era benefício, senão castigo; eram sinais da majestade divina ofendida e irada e demonstrações de que antes queria desamparar e destruir aquele povo, que conservá-lo. Esta foi a justa razão daquelas lágrimas; e já temos concluído que, ainda que S. Pedro fora um anjo, não seria digno sucessor de Cristo, nem ele deixaria dignamente provida a sua Igreja, e ela por aquela eleição e sucessão, não se devia vestir de festa, como hoje a vemos, senão chorar e cobrir-se de lutos. (Padre António Vieira) (url)
© José Pacheco Pereira
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