ABRUPTO

23.8.09


COISAS DA SÁBADO: MAU AMBIENTE, TANTA COISA EM JOGO, TANTA COISA A PERDER…

… na próxima campanha eleitoral, que corremos o risco de ter uma das campanhas mais agressivas, mais violentas da história da democracia depois do 25 de Abril. O grau de violência verbal que já se manifesta nos blogues, o grau de ataques e contra-ataques, a prevalência de argumentos contra as pessoas, o inquinar da campanha pelas questões judiciais, tudo isto associado a uma imprensa que necessita do incidental e do conflitual como pão para a boca, é uma receita para o desastre. Se não houver A a falar contra B, enganos, tropeções, populares a gritar contra os políticos, cenas infelizes, a campanha será “chata”, pouco interessante, pouco espectacular e não vende jornais nem telejornais. Para além disso, a comunicação social tem há muito tempo um estereótipo de cobertura de campanhas e não sabe fazer doutra maneira: os políticos não falam dos problemas do país e só se interessam por questiúnculas menores. Se não existirem inventam-se, ou então os “protagonistas” são uns maçadores estruturais que “nada dizem aos portugueses”. O enfado dos editoriais dos jornais já quase que está definido com antecedência. Perdido por ter cão, perdido por não ter.

Os políticos têm também muita culpa. O tom do populismo agressivo tem crescido por sua responsabilidade nos últimos anos e partidos como o PP e o BE capitalizam com os excessos pretendendo ao mesmo tempo ficar “fora do sistema”. A personalidade muito especial do Primeiro-ministro e o rastro de conflitos que deixou atrás de si, sem praticamente nenhuma reforma sólida, também semeia muita intolerância. O facto dos portugueses estarem cansados, sem esperança e sem qualquer ilusão sobre os maus tempos que estão e vão passar, cria também um pano de fundo de radicalismo que se volta contra os políticos e a democracia.

A questão está em como compatibilizar uma campanha que não conheça tabus, naquilo que é fundamental julgar - o que também inclui assuntos tão espinhosos como o BPN ou o Freeport nas matérias que são do domínio estritamente político e só nisso, - com a capacidade de manter os limites da pessoalização e da agressividade. Vai ser difícil encontrar este equilíbrio, porque está muita coisa em jogo e o resultado está em aberto, sem vencedor antecipado.

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© José Pacheco Pereira
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