ABRUPTO

18.7.09


COISAS DA SÁBADO:
ALEGRE NÃO CONCORDA COM A POLÍTICA DO SECRETÁRIO-GERAL DO PS. NATURALMENTE NÃO QUER SER DEPUTADO

Manuel Alegre tem recusado ser deputado do PS, considerando que as suas divergências tornam incompatível a sua participação na campanha pelo PS de Sócrates. E pretende participar no debate público com liberdade e, por isso, sai do parlamento sem dramas. Faz bem, mostra desapego face ao poder e dá uma lição a todos que consideram que o lugar de deputado é uma espécie de direito natural que está antes da ideias e posições.

Seria bom que no PS e no PSD se seguisse esse exemplo sem nenhum drama. Só quem pensa a política como emprego ou carreira é que considera que existe um direito natural a ser deputado apenas porque se é membro, conhecido ou não, de um partido político. O correlativo desta maneira de ver as coisas é a ideia de que só se “faz política” se se tiver um cargo político, seja por eleição, seja por nomeação.

Como é que alguém que acha que está tudo mal na direcção do seu partido e na sua política pode fazer uma campanha de boa fé por essa direcção e essa política que vai a votos? Ainda mais quando o seu próprio lugar vai estar assegurado não pelo seu mérito individual, mas por uma escolha intra-partidária, à boleia de uma política com que não se concorda. Seria bom acabar nos partidos com as ideias de “carreira” em que todos os pretextos são bons para se ser deputado ou voltar a ser deputado, mais pelo cargo do que pelas políticas, muitas vezes com reserva mental sobre os cenários pós-eleitorais e não sobre o mérito do combate eleitoral em si mesmo. Mais uma vez é o lugar e o emprego que contam e não a política.

A ideia de que as listas são representação interior dos grupos e facções também tem pouco sentido, particularmente quando esses grupos e facções não tem qualquer consistência ideológica representando apenas um agregado de interesses internos e externos. Que Sócrates convide Alegre, compreende-se porque alarga para fora, para o país, porque Alegre significa alguma coisa fora do PS. Mas, mesmo assim, como Alegre percebeu, o convite era envenenado porque o PS precisa de maximizar os votos mas engoliria na campanha as suas posições. A não ser que a campanha se transformasse numa cacofonia total, não são as listas de deputados o mostruário da pluralidade interna, mas sim a participação livre dos membros dos partidos no debate público sem drama interno.

Claro que a votos não vão apenas para as direcções e a sua política, embora esse seja um elemento decisivo em qualquer escrutínio, mas vão também os partidos, com o seu património, história escrita e não escrita, e mesmo “camisola”. Mas todo esse combate político pode ser feito em muito lado, como era suposto ser o normal e o dominante e não é. Haveria mais vida cívica e esta seria mais sadia se os partidos não se tivessem transformado em máquinas de puro poder assentes em cargos e carreira e não na expressão das “partes” da opinião e dos legítimos interesses a ela associados.

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© José Pacheco Pereira
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