ABRUPTO

17.5.09


SE PORTUGAL FOSSE UM PAÍS A SÉRIO... (4)



... muita coisa que se faz não se poderia fazer.

Se Portugal fosse um país a sério, nós olharíamos para o Bloco de Esquerda como ele realmente é, a face do comunismo na sua roupagem actual, que nos cartazes por todo o lado, na sua súbita riqueza propagandística, propõe soluções só possíveis em sociedades totalitárias e não democráticas. Não se excitem que é mesmo assim. Como é possível, sem expropriação da propriedade privada e sem destruir o essencial da economia empresarial e de mercado, propor a proibição de despedir quando há lucros? Na Venezuela "chavista" é o que se começa a fazer, para tapar o desastre económico a que o socialismo populista de Chávez condena o país. Claro que isto só se pode fazer fechando pouco a pouco todos os órgãos de comunicação social independentes, e colocando milícias de camisa vermelha nas ruas a espancar todos os que se colocam do lado dos "ricos". Como é possível não perceber que se a energia "é de todos", por que razão não o é a água, a terra, as minas, as casas e por aí adiante?

Na verdade, como já o disse, o BE acha mesmo que tudo é de todos, a mais clássica fórmula do comunismo, mesmo que, também como acontece em todos os comunismos reais e no caminho para eles, muitas "pequenas" excepções são aparentemente permitidas. Se lhes perguntarem se querem abolir a propriedade privada, jurarão que não. Mas experimentem continuar a perguntar, entrando naqueles terrenos de precisão ideológica e política que muito pouca gente trilha na comunicação social diante do BE, com receio de passarem a "direitistas" ou "provocadores", e verão como certos adjectivos começarão a ser colados aos substantivos, como democracia, empresa, mercado, propriedade, que começam a ter baias e limites em nome de "todos", dos "pobres", da "responsabilidade social", da "justiça" e acima de tudo da moral, a épica noção que faz Louçã revirar os olhos das palavras.

Até neste uso apocalíptico e justiceiro da moral se vai na melhor tradição comunista. Vejam os cartazes e a retórica, mas tenham a noção de que votar no BE hoje está muito para além de ser uma inócua maneira de manifestar uma zanga com o governo. É votar numa velha ideia antidemocrática, iliberal, "orgânica", populista, cujos estragos em mortes, sofrimento, atraso, violência, nos últimos cem anos, deixam a actual crise como uma brincadeira de bebé.

(Continua.)

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]