ABRUPTO

23.5.09


COISAS DA SÁBADO: COMO O PRIMEIRO-MINISTRO SE REPETE TODOS OS DIAS, EU TAMBÉM ME REPITO QUANTAS VEZES FOR NECESSÁRIO

Hoje, o Primeiro-ministro José Sócrates não governa. Passeia pelo país para participar em momentos escolhidos para os noticiários da RTP, umas vezes dois por dia, um de manhã, outro à noite. Veja-se como foi a última semana (igual à anterior, igual à seguinte):

Dia 11, foi visitar escolas secundárias com a Ministra da Educação e afirmou que “o programa de modernização do parque escolar como um dos mais importantes no combate à crise e defendeu que é em 2009 que se deve fazer investimentos público para responder à recessão económica.” Não é novidade, nem notícia. Já fez o mesmo pelo menos quatro vezes.
Ontem houve mais uma e deu as cenas de manifestação (mas que patetice chamar "fascista" ao governo!) na Escola António Arroio.
Dia 12 foi a Lorvão, Penacova (Coimbra) inaugurar o Centro Social Paroquial de Lorvão, uma obra importante localmente, mas de pequena dimensão. Sócrates repetiu pela enésima vez que "o investimento em equipamentos sociais não só dá oportunidades a empresas, dá também oportunidades de emprego e dá principalmente, oportunidades a todos aqueles que precisam da justiça e da solidariedade do País".

No dia 13, anunciou “a criação da linha de crédito PME Invest 4, num valor global de 400 milhões de euros, com 200 milhões destinados a apoiar as exportações e outros 200 para pequenas e micro empresas.” A oposição interroga-se de onde vem tanto dinheiro, que não aparece no Orçamento, e contesta a eficácia das sucessivas medidas pontuais deste tipo. Sócrates, nestes momentos (e no parlamento), recusa responder ás perguntas para que não tem resposta-chave preparada, ou que são incomodas. Apesar de aparecer todos os dias na televisão, Sócrates por regra não responde a perguntas, faz apenas o discurso de propaganda. Os órgãos de comunicação social que lhe fazem de pé de microfone beneficiam o infractor, mas quem é que quer saber disso? O poder é o poder.

No dia 15, foi á Madeira distribuir computadores “Magalhães”. O PS local organizou uma pequena manifestação de “algumas dezenas de madeirenses à entrada do Palácio de São Lourenço”. A RTP tratou essa manifestação com honras da casa.

No dia 16, as “Novas Oportunidades” iniciaram mais um ciclo de oportunidades para o Primeiro-ministro fazer sessões de propaganda. Em Penafiel, a uma pergunta futuróloga de “um jornalista ”sobre se o programa Novas Oportunidades é para manter na próxima legislatura” respondeu "com certeza, vamos mantê-lo para os próximos anos e tenho a certeza que este programa é um dos mais importantes para que o país vença o défice de qualificações". Ou seja, o jornalista não tem dúvidas que Sócrates já governa para além das eleições. A utilização das “Novas Oportunidades”, que me lembre, já vai na nona ou décima sessão de propaganda.

Mas não chega. No dia 17, tivemos um duplex. Mais uma entrega de diplomas das “Novas Oportunidades” (a quinta ou a sexta em que Sócrates participa e fala para a televisão) e uma participação na corrida destinada a fazer “promoção” do programa. O programa teve um crescimento exponencial de mais de 200.000 participantes nos últimos meses, coisa que os que nele participam como formadores, consideram bastante implausível, a não ser para bater certo com as metas anunciadas. As dúvidas sobre a qualidade da formação são generalizadas, sobre o valor dos diplomas, idem, existindo uma enorme pressão para cumprir estatísticas. A continuar assim, um programa que tinha mérito promete dar resultados idênticos aos muitos milhões enterrados pelo Fundo Social Europeu.

No dia 18 foi ao Museu Nacional de Arte Antiga a pretexto do fim restauro da "Custódia de Belém", que à míngua de realizações no sector, serve gerar um momento cultural para o Primeiro-ministro brilhar.

Se virmos bem tudo isto, há muito pouca obra em causa. Há o “Magalhães”, cujos custos reais começamos a conhecer esta semana, e que ninguém preparou ou avaliou (ou avaliará neste governo) no seu impacto, e há as “Novas Oportunidades”, um programa com mérito, a caminho de ser transformado apenas numa bandeira do governo, e a ser mais um desperdício monumental de dinheiro público, sem exigência nos diplomas, sem dar mais empregabilidade a quem o frequenta, e a ser pouco mais do que números e vapor.

Depois, não há verdadeiro conteúdo noticioso nestas andanças de José Sócrates. Ele diz sempre o mesmo, entre o elogio do governo que faz tudo o que é mais “importante” (em tudo ele diz que é o “mais importante”), ataques à oposição e frases ideológicas sobre o investimento público e a justiça social. Esta lista fi-la a partir da RTP, que não falta com câmaras e directos a nenhuma destas sessões de propaganda. Todos os dias.

É assim que estamos, é assim que somos governados.

*
É uma patetice gritar “fascista” ao governo. Concordo. No entanto, não deixa de ser curiosa a aparente espontaneidade com que tudo foi organizado. E as críticas certeiras que se ouviram na tv (quando tantas vezes criticamos os mais novos pela futilidade dos seus “objectivos” nas manifestações – e com razão): mais do que um edifício novo, os alunos, querem material; e não é um material qualquer, do tipo “último grito em tecnologia” ao jeito do magalhães – eram umas impressoras decentes para imprimirem trabalhos, sem terem de sair da escola!

Sou aluno do ensino superior e mesmo numa Universidade com alguma “fama”, com instalações do melhor no país e na Europa e com um orçamento razoavelmente alimentado por receitas próprias, nota-se aqui e ali a falta daquelas pequenas coisas que são absolutamente necessárias: do detergente ou papel nos wc’s (reabastecidos com menos frequência…), das ementas sociais das cantinas (com decréscimos de qualidade e com escolhas que se notam cada vez mais ponderadas por critérios economicistas), até ao papel, ás “ploters” e outro material – que, estando dispostos a pagar, preferíamos pagar a preço de custo, do que aos preços proibitivos de mercado.

Nas escolas de artes e nas escolas de ciências (pelo menos) do ensino secundário ou superior, não se fazem “omeletas” só com frigideiras. São precisos ovos. Talvez primeiro os ovos: se não tivermos “frigideira” para a “omeleta”, pelo menos, fazemos a “gemada”.

(Paulo Batista)

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