ABRUPTO

22.4.09


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (87): AGORA, ÀS CLARAS, O MÚTUO ELOGIO


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

O Diário de Notícias, entronizado na figura do seu director no único elogio pessoal que o Primeiro-ministro fez na sua entrevista, responde em espécie:
Três temas dominaram a entrevista a José Sócrates, ontem, na RTP. As "supostas" trocas de palavras com Cavaco Silva, o anúncio de umas mudanças no subsídio social de desemprego e o caso Freeport. Este último foi obviamente o tema mais importante. Supõe-se, até, que esta entrevista toda tenha tido esse objectivo. Sócrates falou depois de um longo silêncio numa prestação pessoal que o favoreceu.

Perante as perguntas que se baseavam - como aliás todas as notícias até aqui - em deduções, o primeiro-ministro mostrou-se indignado. Aos olhos com que ele quer que o público o veja, correctamente indignado. Declarou-se vítima de uma campanha pessoal que tentou explicar e, mostrando uma face humana que até há pouco lhe era estranha, disse sentir-se no "meio de um processo kafkiano". Esta sua declaração é muito pessoal, mas terá repercussões políticas. Mais: como a maior parte dos partidos que reagiram à entrevista o fizeram do ponto de vista formal das questões político-económicas, fica-se com a sensação de que aquela parte, a parte do Freeport, funciona directamente entre Sócrates e o eleitorado.

O maior desperdício terão sido os dez minutos passados a discutir se os recados de Cavaco eram para Sócrates e vice-versa. Dez minutos passados no domínio da psicologia - com ligações à realidade através de auto-estradas e TGV. E Sócrates aproveitou a insistência dos entrevistadores para brilhar, e mandar mais recados para Belém: o mais importante, para dizer que espera que o Presidente não faça o jogo da oposição. Veremos se a estratégia - utilíssima (?) para os interesses nacionais - continua no próximo sábado, quando Cavaco Silva falar nas cerimónias do 25 de Abril.
Os amigos são os mesmos, os adversários são os mesmos (o ponto de interrogação em "utilíssima" é notável) e o caminho é o mesmo.

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© José Pacheco Pereira
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