ABRUPTO

11.4.09


EARLY MORNING BLOGS

1533 - Vos autem quem me esse dicitis?

Suposto andarem tão válidas no púlpito e tão bem recebidas do auditório as metáforas, mais por satisfazer ao uso e gosto alheio, que por seguir o génio e dictame próprio, determinei na parte que me toca desta solenidade, servir ao Príncipe dos Apóstolos também como uma metáfora. Busquei-a primeiramente entre as pedras, por ser Pedro pedra, e ocorreu-me o diamante; busquei-a entre as árvores, e ofereceu-se-me o cedro: busquei-a entre as aves, e levou-me os olhos a águia: busquei-a entre os animais terrestres, e pôs-se-me diante o leão; busquei-a entre os planetas, e todos me apontaram para o Sol; busquei-a entre os homens, e convidou-me Abraão; busquei-a entre os anjos, e parei em Miguel. No diamante agradou-me o forte, no cedro o incorruptível, na águia o sublime, no leão o generoso, no Sol o excesso da luz, em Abraão o património da Fé, em Miguel o zelo da honra de Deus. E posto que em cada um desses indivíduos, que são os mais nobres do Céu e da Terra, e em cada uma de suas prerrogativas achei alguma parte de S. Pedro, todo S. Pedro em nenhuma delas o pude descobrir. Desenganado pois de não achar em todos os tesouros da natureza alguma tão perfeita, de cujas propriedades pudesse formar as partes do meu panegírico, (que esta é a obrigação da metáfora) despedindo-me dela e deste pensamento, recorri ao Evangelho para mudar de assunto; e que me sucedeu? Como se o mesmo Evangelho me repreendera de buscar fora dele o que só nele se podia achar, as mesmas palavras do tema me descobriram e ensinaram a mais própria, a mais alta, a mais elegante e a mais nova metáfora, que eu nem podia imaginar de S. Pedro. E qual é? Quase tenho medo de o dizer! Não é cousa alguma criada, senão o mesmo Autor e Criador de todas. Ou as grandezas de S. Pedro se não podem declarar por metáfora, como eu cuidava, ou se há ou pode haver alguma metáfora de S. Pedro, é só Deus. Isto é o que hei-de de pregar, e esta a nova e altíssima metáfora que hei-de prosseguir. Vamos ao Evangelho.

(Padre António Vieira)

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© José Pacheco Pereira
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