ABRUPTO

25.4.09


COISAS DA SÁBADO: O CANDIDATO APRESENTADO FORA DO TEMPO



O candidato fora do tempo, Paulo Rangel, foi escolhido pela razão mais óbvia de todas, mas que pelos vistos escapa a muita gente: as eleições para o Parlamento Europeu são entendidas como tendo o significado de, pelo menos, serem uma grande sondagem das eleições nacionais e de serem um momento para a discussão dos problemas do país, da crise que atravessa e da inserção europeia das suas políticas. Não vão ser outra coisa, não podem ser outra coisa, não devem ser outra coisa.

Começo pelo “devem” para desde já afastar a ideia absurda, que, por notória conveniência Vital Moreira exprimiu (acompanhado por Laurinda Alves), de que só se devem discutir “questões europeias”. Esta é uma típica contradição dos europeístas que estão sempre a dizer que tudo o que é importante é “europeu” e depois pensam que há uma barreira de aço entre o que é “nacional”, por natureza mesquinho, pequeno e sem visão, e o que é “europeu”, uma espécie de burocratês apolítico, a que atribuem a classificação de grande política. É uma versão do anátema do “canalizador polaco” que os fez perder a tão querida Constituição.

Bem pelo contrário, é fazendo a discussão nacional, da crise, do desemprego, das medidas do governo, da corrupção, da descrença face à política, das políticas de grandes obras públicas, do sistema financeiro, etc., etc. no quadro das políticas europeias e da situação da nossa parte do mundo e do nosso país, que se dá significado às eleições europeias. É também assim que se combate a abstenção, que é uma resposta pelos pés, ao carácter abstracto e longínquo do discurso “europeu”, e também da sensação dos cidadãos, de que não tem poder quando se fala da União Europeia porque nos momentos decisivos nunca são consultados e, se o são, não podem dizer não.

Paulo Rangel é o candidato ideal para o PSD, no contexto do debate realmente existente e não do virtual, e no contexto da situação interna do PSD. Com Rangel será difícil o trabalho da patrulha das nuances que teria uma época cheia se fosse Marques Mendes o candidato, e transformaria a campanha europeia num debate sobre o PSD e a sua liderança, com resultados que seriam sempre, no plano político, favoráveis ao PS. Isso, mesmo que Marques Mendes não o desejasse, e independentemente dos seus méritos. Aliás, mergulhasse Marques Mendes na campanha nacional com a mesma dureza contra Sócrates e o PS que o PSD espera de Rangel e logo esta lua de mel com Mendes, que é puramente táctica, se transformaria numa campanha contra ele, igualzinha à que o fez perder a liderança do PSD. É uma pura questão de bom senso.

/Continua.)

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© José Pacheco Pereira
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