ABRUPTO

9.4.09


COISAS DA SÁBADO: ALTAS PRESSÕES, BAIXAS PRESSÕES

Não é quando a pressão sobe que vem mau tempo. Bem pelo contrário. Sabemos que se o barómetro começa a subir, aquela firme coluna de ar impede outras perturbações. Assim espero que aconteça com os procuradores do caso Freeport: vêem a pressão subir e ficam firmes como uma rocha na sua determinação de não deixar entrar o vento.

Denunciaram o caso e, como por acaso, dentro de um princípio que se aplica sempre a tudo o que diz respeito ao Primeiro-ministro, cada cavadela sua minhoca. Veio agora à colação uma personagem de interessante biografia, de Felgueiras a Haia, o nome do Ministro da Justiça e o do próprio Primeiro-ministro. Não há grandes contradições nos relatos sobre o que foi dito, há apenas diferenças de interpretação sobre o seu significado. Espera-se pois que aí continuem os procuradores bem no centro das altas pressões. É bom sinal, aí é que estão bem, se querem ir até ao fundo e ao fim, deixem a natureza rodopiar à volta.

São as baixas pressões que me preocupam, as que tornam o ar rarefeito à nossa volta, as que trazem o vento, e os trovões, as que preparam o terreno para ainda maiores tempestades. Aí estão neste momento a chover inquéritos sobre o inquérito. Há um para o caso Freeport propriamente dito, ou seja, para uma coisa que não se sabe o que é, visto que a julgar pelo que disse a procuradora encarregada do processo, há um mês, não havia suspeitos. Se não há suspeitos, o que é que se investiga? Alguma coisa deve ser, visto que se continua a investigar e já há arguidos. Há outro para saber o que se passou com o timing do inquérito, porque começou, arrancou, parou e recomeçou. Este vai ser muito interessante. Há outro para as fugas de informação. E agora há um sobre a meteorologia do caso, as altas e baixas pressões sobre os magistrados.

Não é a voz grossa que me preocupa são a miríades de vozes quase ciciadas, que abundam por todo o lado. Aqui as paredes falam e escutam. E todas dizem, cuidado, respeitinho, quem se mete com o poder, leva. E não pensem que eu não ajusto contas, diz a parede dos sussurros. Ajusto, ajusto. E começam a chover processos a jornalistas na TVI, no Diário de Notícias e no Público. E presumo que não se ficará por aqui, porque “ofensas” semelhantes muita gente as cometeu, a começar por mim. Pelo que, a não ser que se pretendam fazer operações cirúrgicas, mais destinadas a meter medo e pôr a gente em ordem do que a obter justiça, deverá vir aí uma enxurrada de processos pela serra abaixo devido às tempestades das baixas pressões.

Repito, são as baixas pressões que me preocupam, as que se desconhecem, as que estão por todo o lado, as que levam muitos órgãos de comunicação a colocar o caso Freeport numa página interior, as que explicam por que razão a televisão e a rádio públicas não façam qualquer investigação autónoma no caso Freeport e se a fazem não as publicam (não conheço uma única notícia original da RTP, com a sua poderosa redacção, sobre o Freeport). É o ar fino das baixas pressões que nos adoece, que faz entrar os vírus, que deixa os mosquitos povoar as nossas águas. É a moleza do ar, não a sua dureza que nos fazem mal.

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© José Pacheco Pereira
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