ABRUPTO

28.2.09


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ÁTOMOS E BITS

de 28 de Fevereiro de 2009.

Se, em vez de nos distrairmos com incidentes como o do quadro de Courbet, pequenina censura que se dissipou aos primeiros raios de Sol, déssemos atenção ao Congresso do PS e ao que diz Sócrates, grande censura vinda do poder político, sombria e agressiva, aplaudida, silenciada, perigosa? Muito perigosa, até porque é tratada com uma excessiva indiferença por uma comunicação social que, pelos vistos. acha normal que seus pares sejam atacados em palavras de comício violentas, destinadas a limitar a nossa liberdade de discutir matérias cívicas, destinadas a que não se possa discutir o caso Freeport, sem ser nos termos que convém ao Primeiro-ministro?

Não. É inaceitável que não se possa discutir o caso Freeport para além da discussão que interessa ao governo, que é a das fugas de informação. O caso Freeport tem entre outras coisas uma polícia estrangeira a investigar o Primeiro-ministro português por suspeitas de corrupção. Basta isso e nós não o podemos discutir? Não podemos discutir o que se passou quando o Primeiro-ministro, que usa o Freeport como arma de arremesso político à mais pequena oportunidade, se recusa a esclarecer o que deve, e que é muito? Quando estamos num país em que se pode, na Assembleia da República, inquirir sobre o BPN, e não passa pela cabeça de ninguém inquirir sobre o caso Freeport? Vejam lá se o BE tão lesto em pegar sempre nestas coisas, não vem sempre proteger Sócrates... E a oposição, se no início manteve silêncio e bem sobre o caso, não pode agora continuar calada quando Sócrates o transforma numa estratégia eleitoral. Discutir o caso Freeport é um dever cívico por muito que incomode o Primeiro-ministro, mesmo com base em fugas de informação, que só exigem prudência no seu uso e não censura do seu conteúdo.

É verdade que há uma investigação criminal (no caso do BPN também e isso não foi óbice), mas não é exigível civicamente saber-se o que se passou e o que se passa numa investigação criminal que põe seriamente em causa a justiça e a sua relação com o poder político? Não se pode inquirir sobre um licenciamento estranhíssimo de um grande empreendimento numa zona especialmente protegida numa comissão parlamentar? Não se pode discutir o que se sabe, porque alguma coisa (longe de ser a mais importante) que se sabe tem origem em fugas de informação? Desde quando é que o PS se inibiu alguma vez de discutir fosse o que fosse apenas porque teve origem em fugas de informação? Se for o BPN podemos discutir com base em fugas sem encher as páginas de "alegados", se for o Freeport é "alegados" às centenas...

Quando o Primeiro-ministro usa o caso Freeport para conduzir uma luta política, ao mesmo tempo que pretende chantagear quem o discute substantivamente ( e meus caros amigos há matéria para o fazer e não é pouca), não se pode ficar silencioso, que é o que ele quer. Nem se pode nomear a TVI e o Público como querendo "governar" o país fazendo um complot contra o governo e as excelsas virtudes do Primeiro-ministro, sem perceber que este homem quer amordaçar o mais pequeno vislumbre de irreverência e independência da comunicação social. Estivesse esta mais viva e menos situacionista e as palavras de Sócrates ontem dariam origem a uma indignação que nos faz falta em nome da liberdade. Porque este homem é perigoso, demasiado perigoso.

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© José Pacheco Pereira
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