ABRUPTO

17.2.09


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (45):
SOBRE UMA CAMPANHA "NEGRA" AFINAL MUITO BRANCA


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Para além do ridículo de considerar campanha "negra" uma campanha feita na praça pública, assinada e identificada, se a comunicação social fizesse o seu trabalho de casa em vez de tomar por boas as insinuações governamentais (via Santos Silva e Sócrates), chegaria facilmente à conclusão de que o cartaz da JSD já teria que estar preparado muito antes de se saber que havia um "Pinocchio" no caso Freeport , pelo que a única sugestão que podia ser considerada "negra" era muito pouco plausível (*).

O artigo do Sol que refere o "Pinocchio" é de 31 de Janeiro (e só chega a título a 7), o cartaz foi anunciado no Expresso a 30, ou seja um dia antes. Para haver causa e efeito, entre um e outro "Pinocchio", haveria que esquecer o Expresso e admitir que tudo fora feito depois de 31 até 3 de Fevereiro, data da afixação do cartaz, ou seja, de sexta a terça-feira, teve que se desenhar e imprimir um cartaz de grandes dimensões, alugar e colocar um outdoor, o que é pura e simplesmente impossível. A não ser que se considere que a JSD já sabia do "Pinocchio" com muita antecedência, o que é puramente especulativo. Aliás a notícia do Expresso não faz qualquer correlação entre o cartaz e o "Pinocchio" do caso Freeport, apenas ao problema da "credibilidade" de Sócrates. Bastava pensar e verificar para se ver que não há aqui "negritude" nenhuma.

Podem considerar o cartaz de mau gosto, mas mais nada. E original é que ele não é. Bastava ir à Internet para verificar que a representação de Sócrates como Pinóquio é muito anterior ao caso Freeport e muito mais comum do que se imagina. Sócrates como Pinóquio apareceu em Carnavais em carros alegóricos, manifestações da CGTP e dos professores, blogues e jornais como caricatura, e ...na Assembleia Regional da Madeira. Pelos vistos a "campanha negra" já data de há muito.

Alguns exemplos portugueses (e há mais) :



um do Bloco de Esquerda com outra personagem e vários de uso mais do que comum do mesmo tipo de caricatura em tudo o que é país e democracia:



* Há vários exemplos de "indignações" na comunicação social com o cartaz, algumas já aqui referidas. Uma delas é um editorial de Manuel Carvalho no Público:
Há um cartaz espalhado pelo país que se transformou num espinho cravado no debate político e ameaça a estratégia do PSD. Ao colocar nas ruas a imagem de José Sócrates retratado com o nariz comprido de Pinóquio, a JSD exibiu "irreverência" (adjectivo de Manuela Ferreira Leite), qualidade que, com complacência, se tolera nos actos das juventudes partidárias. Mas a mensagem subliminar do cartaz vai muito além da intenção de dizer com a graça dos mais novos que o primeiro-ministro é um crónico incumpridor de promessas ou um reincidente promotor de palavras falsas. Depois de as notícias dos jornais transcreverem a carta rogatória da polícia inglesa sobre o caso Freeport, na qual um tal "Pinóquio" é citado como estando no cerne de putativos pagamentos ilegais, o cartaz da JSD deixou de ser apenas uma denúncia sobre a falta de realização de promessas políticas: tornou-se também uma peça que promove em público a associação directa entre José Sócrates e as suspeitas do Freeport.
A melhor resposta veio no mesmo dia no mesmo jornal dada por Eduardo Cintra Torres:

Clicando fica na boa dimensão.

(url)

© José Pacheco Pereira
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