ABRUPTO

14.2.09


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (41):
O PAÍS EM QUE SOMOS TODOS PRIMOS UNS DOS OUTROS



A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

O Público tem hoje uma excelente nota jornalística (de autoria de Clara Viana) intitulada "O mundo pequeno do caso Freeport". Um dos problemas portugueses é este: isto é tudo tão pequeno, está toda a gente em cima da de toda a gente, os bens são escassos, a fome é muita, logo a independência é raríssima. Ou dito de outra maneira: num país em que somos todos primos uns dos outros, é difícil haver uma democracia. Muito do situacionismo endémico em que vivemos vem daí.

O "mundo pequeno do caso Freeport" mostra as interacções entre os protagonistas, numa rede pessoal (a endogamia em certos grupos profissionais é forte), de carreiras, de nomeações, de lugares. E mostra algo que devia estar sempre presente na nossa cabeça: existe um establishment nacional à volta do PS e que só ocasionalmente toca no PSD, no PP e só marginalmente no PCP. É menos "bloco central" do que se pensa e mais PS do que se imagina. Atravessa praticamente todos os lugares onde realmente há poder e dinheiro em Portugal, seja fundações, old boys networks, gabinetes "técnicos", o mundo da "cultura" subsidiada, universidades, lobbies organizados como agências de comunicação, empresas públicas, grupos ligados à Maçonaria com uma presença forte no sistema judicial e nos serviços de informação. Inclui bancos e grandes empresas muito próximas do estado e do poder político socialista. Era no sector empresarial que ainda havia algum pluralismo, mas mesmo aí tem havido uma significativa perda de independência. E quem escapa a este establishment e fere os seus interesses nunca terá um bom emprego, terá sempre a reputação em perigo (um dos aspectos mais importante deste establishment é o de dador de "legitimidade" simbólica, através de lugares, prémios, homenagens, protecção) e parece sempre "excessivo".



Clara Viana nota e bem que "os Governos de António Guterres funcionaram como epicentro" e depois descreve proximidades perigosas: Cândida Almeida "membro da comissão de honra da candidatura de Mário Soares à Presidência da República nas eleições de 2006", que reune no Eurojust "actualmente presidido pelo português José Lopes da Mota", procurador que "foi secretário de Estado da Justiça do primeiro Governo de António Guterres (1996-1999), na altura em que José Sócrates era secretário de Estado do Ambiente" e que "chegou a ser um dos nomes falados para substituir o PGR, mas na altura foram tornadas públicas suspeitas de que teria fornecido a Fátima Felgueiras uma cópia da denúncia anónima sobre o "saco azul" socialista. O inquérito aberto pelo procurador-geral Souto de Moura foi arquivado por falta de qualquer tipo de provas nesse sentido. Na década de 80, tinha sido procurador em Felgueiras. " (Clara Viana não referiu que Sócrates também está ligado a Felgueiras). Nessa reunião do Eurojust teria estado António Santos Alves, ex-inspector do Ambiente e Magistrado do Ministério Público, representante português no Eurojust. que "era inspector-geral do Ambiente em 2002, quando a construção do Freeport foi viabilizada pelo Ministério do Ambiente, então tutelado por Sócrates. Foi este, como ministro do Ambiente, que o nomeou para o cargo de inspector-geral em Dezembro de 2000. (...) " E continua num enorme etc. Vale a pena ler tudo.

. SITUACIONISMO - 4

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© José Pacheco Pereira
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