ABRUPTO

12.2.09


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (39): TEXTO E META-TEXTO


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

No Público de ontem há um bom exemplo da mistura de opinião e jornalismo numa notícia, da mistura de um texto noticioso com uma opinião sobre o evento de que a notícia trata, de um texto (notícia) com um meta-texto (uma opinião) que impregna o primeiro. Façamos uma comparação entre duas notícias de eventos políticos, uma "limpa" e outra "poluída":
Portas propõe redução dos escalões do IRS de sete para três (Sofia Rodrigues)

O líder do CDS-PP, Paulo Portas, criticou ontem o "alívio fiscal" proposto por José Sócrates considerando que a solução impede as "pessoas de legitimamente subirem na vida" e "desincentiva o trabalho". Em contrapartida, Portas defende a simplificação dos escalões do IRS e a aplicação de medidas para as famílias tendo em conta o número de filhos.

Portas defendeu que a limitação das deduções fiscais dos ricos, proposta por Sócrates na moção que levará ao Congresso do PS, implicará que o Estado se "aproprie de cada migalha das famílias". "Na classe média baixa, se uma pessoa ganhar um pouco mais, sobe de escalão e tudo aquilo que ganhou a mais vai provavelmente ser entregue ao Estado. O mesmo acontece com a classe média", explicou Portas, em conferência de imprensa na sede do partido, em Lisboa. "É inaceitável porque põe em causa a mobilidade social", sublinhou, acrescentando que terá como consequência que as pessoas "não tenham incentivo para trabalhar mais".

O líder do CDS quis vincar a distância que o separa da esquerda. "Esta é a grande diferença entre nós e os socialistas. Para eles, cada vez que há mais um esforço, mais um ganho, o sistema fiscal cai-lhes em cima", disse, defendendo a redução dos actuais sete escalões do IRS para apenas três. O líder do CDS-PP criticou a ambiguidade da palavra "rico" usada pelo primeiro-ministro. "Um cidadão que ganha 1900 euros está no escalão que paga 34 por cento do IRS. É uma barbaridade. Desde quando é rico quem ganha 1900 euros?", questionou Portas, que criticou a omissão de Sócrates quanto à tributação dos rendimentos das mais-valias.

Portas considerou ainda que o primeiro-ministro "não tem credibilidade" para falar de alívio fiscal, depois de ter aumentado "o IRS em 20 por cento" nos últimos anos. Mais uma vez, desafiou Sócrates a baixar impostos já, designadamente através da devolução mensal do IVA ou da redução do Pagamento Especial por Conta. Em alternativa às propostas de Sócrates, Paulo Portas propõe a introdução na próxima legislatura do quociente familiar que permite contabilizar "a sério" o número de filhos no pagamento de IRS das famílias. Outra das medidas propostas pelo CDS é o "valor de existência familiar", que determina um mínimo que as famílias têm de ter em conta para sobreviver e que substitui o conjunto de deduções e de excepções válidas só para alguns contribuintes.
Esta notícia é uma notícia. Depois de a ler ficamos a saber o que Paulo Portas disse, que é a primeira razão pela qual se compram jornais. Agora repare-se na forma como é noticiada a conferência de imprensa de Manuela Ferreira Leite e veja-se como, sobrepondo-se à notícia, existe um quadro interpretativo, na base do que disse Marcelo Rebelo de Sousa, que é assumido como um discurso não explícito da jornalista para "interpretar" o que aconteceu. O resultado é um downgrading abusivo da iniciativa relatada, tanto mais que no próprio texto se admite não existir qualquer relação de causa-efeito entre as declarações do comentador e o anúncio do evento, a não ser uma mera sequência temporal. A notícia sobre Manuela Ferreira Leite é a única no noticiário político do jornal nesse dia que é sujeita a este tipo de sobreposição de um meta-texto sobre o texto.

Clicando fica na boa dimensão







Já com retoques na imagem
, PSD arranca com conjunto de debates programáticos "sem efeitos especiais" na véspera do congresso dos socialistas

O símbolo é uma mão em forma de V, inicial de vitória e de verdade, gesto histórico dos sociais-democratas; as cores são o laranja e o verde- esperança e o nome é Fórum Portugal de Verdade. Manuela Ferreira Leite surpreendeu ontem com toda a encenação em volta da apresentação de um conjunto de debates descentralizados sobre temas típicos de programa eleitoral.
(...)
Dois dias depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter considerado "um erro a imagem pública" de Manuela Ferreira Leite, afirmando que "o que está a puxar as sondagens para baixo é a imagem da líder", a presidente do PSD anunciou uma iniciativa "real, onde não entra a política do virtual, do espectáculo e dos efeitos especiais". E que já estava a ser preparada há algum tempo, no segredo da direcção do partido, como se provou pela logística envolvida na apresentação do fórum. (...)

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© José Pacheco Pereira
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