ABRUPTO

21.1.09


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (4): A SEMANA PASSADA NO DIÁRIO DE NOTÍCIAS



* Diário de Notícias, 15/1/2009, Editorial "A liberdade ideológica de Sócrates" (sublinhados meus)
(...) com a esquerda a ameaçar o objectivo da maioria absoluta do PS, não há que poupar nas manobras de sedução. Ontem, o charme surtiu efeito. Durante o discurso, Sócrates foi várias vezes interrompido pelos aplausos da bancada socialista. Nada de novo, não fora o facto de Alegre ter inusitadamente seguido a "disciplina partidária". Aos poucos, Sócrates vai estabelecendo as pontes necessárias com a ala esquerda do partido. (...) Nos tempos que correm, a clarificação ou distinção entre blocos ideológicos é fundamental para a contabilidade eleitoral. E se há verdade incontestável, é que é mais fácil ao PS oscilar entre a matriz de esquerda original e o centro que faz ganhar eleições do que o PSD resvalar para a esquerda.
SITUACIONISMO +4
* Francisco Almeida Leite (Diário de Notícias, 15/1/2009) sobre a intervenção de Marques Mendes (página inteira em contraste nessa semana com todas as notícias sobre Ferreira Leite). Note-se o habitual estilo de intriga, igual ao que existe dentro dos partidos, (sublinhado meu)
:
Numa altura em que há alguma 'folga' da União Europeia e que Mendes defende a baixa de impostos, Manuela Ferreira Leite parece finalmente pensar o mesmo. Apesar de ter considerado "totalmente irresponsável" a redução do IVA e do IRC proposta por Marques Mendes quando ainda era líder do PSD.
e registe-se, no corpo da notícia, que, proposto por Marques Mendes, o abandono do TGV ainda é bem tratado. Depois de Manuela Ferreira Leite ter falado na entrevista tornou-se um anátema, que "caiu mal no PSD".
SITUACIONISMO +3
* Do mesmo Francisco Almeida Leite (Diário de Notícias, 15/1/2009) e no estilo que lhe é habitual, esta fabulosas "informações ainda por confirmar na sua verdadeira extensão"(sic)


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SITUACIONISMO +4
* Diário de Notícias, 16/1/2009, a dupla notícia da entrevista de Manuela Ferreira Leite e de declarações de Berta Cabral aparece com títulos contraditórios: "Líder do PSD garante ganhar legislativas a Sócrates" / "Berta Cabral aponta para regresso ao poder em 2012". Só depois se percebe que é nos Açores...
SITUACIONISMO +1
* Artigo de João Marcelino, director do jornal (17/1/2009) intitulado "A realidade como ela é" (sublinhados meus):
A ida ao Parlamento, esta semana, voltou a correr bem a José Sócrates. Ele faz os trabalhos de casa, escolhe os temas com rigor táctico (desta vez a Saúde) e condiciona o contacto com os parlamentares pelas propostas que sempre apresenta a abrir. Com isso, fala do futuro e das soluções e evita o passado e os eventuais erros. É inteligente e funciona, sobretudo quando as medidas, como tem sucedido nos últimos tempos, são boas e consensuais. Podia haver mais, sobretudo se tivéssemos economia para isso, mas estas são necessárias, tanto na protecção aos bancos (que o é também aos depositantes) como no apoio às empresas e ao reforço do Serviço Nacional de Saúde.

Tantas vezes acusado por exibir um optimismo desajustado da realidade, José Sócrates faz bem em continuar, obstinadamente, a procurar levar o moral dos consumidores portugueses para cima, sejam eles empresários, gestores ou trabalhadores. O que faltava, nesta crise sem paralelo na economia ocidental nos últimos 100 anos, era que o primeiro-ministro baixasse os braços no combate ou desse sinais de sucumbir perante o desânimo. No barco pequeno da nossa economia, num mar tempestuoso de crise, alguém seguiria ou apreciaria um comandante incapaz de transmitir esperança ou sequer pedir resistência? É que, às vezes, segundo algumas vozes, parece que o País teria a ganhar com um timoneiro que recomendasse aos portugueses que saltassem pela borda fora...
SITUACIONISMO +5
* E, como é habitual, Passos Coelho em antecipação num lugar nobre na última página:



tendo em baixo uma pequena entrevista de Jorge de Sá (apresentado como "especialista em sondagens", na verdade da empresa Aximage que fez a sondagem do Correio da Manhã) que explica que "num momento de crise as pessoas agarram-se ao que lhes parece mais sólido", frase que o jornal destaca. Para um só número do Diário de Notícias, é muito interessante a fixação no PSD...
SITUACIONISMO +4
* Diário de Notícias, 18/1/2009.


O conteúdo fala por si, em particular sobre o homem que diz que não faz oposição a Manuela Ferreira Leite e todos os dias se pronuncia contra as suas posições. É uma técnica antiga, mas os jornalistas do Diário de Notícias parece que não dão por ela e atribuem-me a mim dizê-lo (logo no início da entrevista) como se fosse uma bizarria e não uma evidência.


* No mesmo número do jornal, editorial intitulado "Maus conselhos para Manuela Ferreira Leite"
As opiniões de Manuela Ferreira Leite sobre o TGV têm vindo a revelar bastante ligeireza a tratar de um assunto muito relevante para Portugal. (...) São estas questões [sobre o TGV], ainda mais sérias em tempo de crise, que os portugueses querem e devem respondidas e problematizadas. Isso e não politiquice, como as acusações - infundadas - feitas à Lusa. Quem exige, e bem, que em política é preciso falar verdade não pode revelar tal propensão para a falta dela. A um candidato a primeiro-ministro exige-se o trabalho de casa. E Ferreira Leite, manifestamente, não o fez.
SITUACIONISMO +4
* Finalmente Manuela Ferreira Leite tem uma página inteira que lhe é dedicada. Título: "Acusação à Lusa sobre TGV cai mal no PSD" da jornalista Paula Sá. Fontes para "o PSD"? "Vários sectores do partido" , "várias personalidades do partido, que não quiseram dar a cara às críticas". É pouco para ser "o PSD". Ainda mais interessante este "tentou explicar" que explica muito do pensamento de quem escreve estas "notícias":
Ainda na sexta-feira, no jantar que se seguiu ao comício, o vice do PSD Aguiar Branco tentou explicar a versão de Ferreira Leite. "O que quis mostrar claramente é que sobre uma matéria de política interna a preocupação foi de subserviência".
SITUACIONISMO +4
*

Aqui fica uma amostra do Diário de Notícias. Depois se tratará de outros jornais. Nada tenho contra o facto de um jornal tomar posições e tomar partido, mas entendo que os leitores devem disso ser informados, como se passa na tradição anglo-saxónica. Assim, pretender que isto é puro "jornalismo" e que são apenas "notícias", é querer enganar-nos e condicionar-nos com dolo.

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© José Pacheco Pereira
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