ABRUPTO

21.1.09


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (2): OS DEZ SINAIS


Decálogo do situacionismo dos dias de hoje:

1) o governo do PS não é o ideal mas tem-se mostrado capaz de defrontar os problemas;

2) o Primeiro-ministro Sócrates é um "homem determinado", "faz coisas" e tem uma grande capacidade "comunicativa";

3) a crise que hoje conhecemos vem de fora (dos EUA, e dos "neo-liberais") e todos os nossos problemas actuais se lhe devem;

4) se não houvesse crise, o país estaria a progredir "com o rumo certo" dado pelo governo;

5) para combater a crise precisamos de um novo governo de maioria absoluta do PS, se não é o "caos";

6) Manuel Alegre é uma "referência ética", a "consciência do PS", etc., até ao momento em que começa a falar de um novo partido, passando então a ser um "vaidoso" e um "irresponsável";

7) não existe oposição credível ao PS nem à esquerda, nem à direita e muito menos no PSD;

8) Manuela Ferreira Leite é atacada ad hominem na sua "credibilidade", as suas opiniões são gaffes, e mostra-se desadequada para todas as funções, de líder do PSD a Primeiro-ministro;

9) Passos Coelho promove-se activamente como a alternativa "séria" a Manuela Ferreira Leite, Menezes utiliza-se para os soundbites:

10) a comunicação social cumpre a sua função com independência (a começar pela do estado) e é mesmo muito "crítica" do governo.

Onde estiverem estes sinais, a solo ou em compósito, encontramos as grandes linhas estratégicas que qualquer dos imensos gabinetes ministeriais, assessores de imprensa, agências de comunicação trabalhando para o governo, pretendem disseminar como "mensagem". Este cluster, como agora se diz, é o cerne da propaganda governativa e a sua repetição acrítica gera o imenso situacionismo em que vivemos.

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Sobre o índice do situacionismo, aqui vai um mero exercício de contra-informação. No PS vem ocorrendo um processo de descentração (da idiossincrasia do primeiro-ministro em favor de uma cada vez maior discussão sobre «esquerda» e «centro») e de fragmentação (o «caso» de Manuel Alegre é um sintoma), enquanto que no PSD tende a ocorrer o contrário, isto é, o partido, a sua ideologia «personalista» e a líder cada vez mais se confundem, para o bem e para o mal. Independentemente do tempo e do modo como a realidade evoluirá, trata-se de processos assentes em configurações sociais cuja tendência evolutiva é irreversível, para usar a terminologia de Norbert Elias. Há, a esse nível, uma «mão invisível» bem mais forte do que a frágil «mão missionária» de alguns jornalistas/analistas. É, por isso, muito fácil raciocinar com base em suposições. O problema é haver quem chame e considere isso jornalismo.

(Gabriel Mithá Ribeiro)

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