ABRUPTO

19.12.08


COISAS DA SÁBADO: A NEGAÇÃO DA JUSTIÇA

Baltazar Nunes, o pai da criança que conhecemos como “Esmeralda”, vai queixar-se ao Tribunal Europeu da negação da justiça que lhe é feita em Portugal. O seu caso é dos mais chocantes e revoltantes da injustiça portuguesa: pai de uma criança nascida na forma atribulada que nos dias de hoje é infelizmente muito comum, desde os primeiros anos que pretendeu ser aquilo que é, o pai da criança, sem adjectivos. A justiça deu-lhe razão em tudo o que é fundamental e considerou que o modo como outra família tinha tomado conta da sua filha era um “sequestro”, pelo qual houve uma condenação judicial. Que esse sequestro é alimentado por uma teia de mentiras vê-se a olho nu pelas justificações da própria esposa do sequestrador no seu processo judicial. E no entanto, de forma incompreensível e inexplicável, as decisões dos tribunais e a lei não são aplicadas. E cada dia que passa cria-se um cruel facto consumado. Aqui o crime compensa.

Pouco a pouco, a injustiça foi-se estabelecendo contra a lei e o afecto, porque cada dia afasta mais a criança do seu pai com danos cada vez mais irreversíveis, fazendo o mal e a caramunha e consolidando o crime. Alimentada pelo populismo mais vulgar foi-se criando uma distinção que, a estabelecer-se no domínio público sem reservas, pode ter um papel sinistro na vida das famílias, entre “pai biológico”, uma espécie menor, e o “pai afectivo” ou do “coração”, o do verdadeiro pai. Entretanto, no meio de uma selva de decisões, contra-decisões e dilações, com um papel igualmente sinistro para esta nova espécie de interlocutores comunicacionais que dão pelo nome de “pedopsiquiatras”, a criança foi deixada a um condicionamento afectivo contra o seu pai, que premeia o acto do sequestro, de uma forma revoltante. Parece que se decretou que o pai da criança não pode amá-la, e que lhe foi roubada a qualidade do afecto. Pior ainda, a continuar como continua esta injustiça, roubam-lhe não só a qualidade plena de pai como o afecto da filha. E ninguém quer saber.

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© José Pacheco Pereira
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