ABRUPTO

20.12.08


COISAS DA SÁBADO: DIVISÕES BEM-VINDAS, DIVISÕES VILIPENDIADAS



É tão interessante como pedagógico ver o tratamento de certa imprensa no que diz respeito às divisões do PS e do PSD. É mais um sinal de uma regra não escrita de subserviência ao establishment e de serviço ao poder socialista. Nuns casos é volitiva, politicamente empenhada, noutros o resultado de um profundo conservadorismo e complacência face ao poder. Quando Alegre ameaçou com a criação de um novo partido, foi gozado, maltratado, ridicularizado, responsabilizado pelos problemas que iria criar ao PS e à maioria absoluta de Sócrates, como se estivesse a trair um qualquer “desígnio nacional”. Um jornal gratuito retratou a sua iniciativa como dando origem a uma “Frente Romântica Socialista” e caricaturou-o com um Che Guevara caseiro. O tom, ecoando o dos responsáveis do governo e os comentadores socialistas, foi “vê lá bem o que vais fazer ao nosso querido PS”, e o homem foi entre bajulado e ameaçado com as terríveis consequências para ele próprio e para sua gloriosa carreira presidencial no PS (que consiste em concorrer contra Cavaco Silva e perder), se ousasse dividir os votos do PS.

Que diferença que isto faz com o tratamento da oposição interna a Manuela Ferreira Leite, em que qualquer banalidade é promovida a pensamento profundo e qualquer suspiro, ainda que venha da gente mais inqualificada, obscura ou suspeita é transformado num vendaval político. Quando não há notícias inventa-se qualquer intriga como faz o Diário de Notícias, uma espécie de órgão não oficial da candidatura permanente de Pedro Passos Coelho, que é sempre retratado como uma das grandes figuras da política portuguesa com presença assídua na primeira página vá-se lá saber porquê. Basta ver os blogues onde os jornalistas do Diário de Noticias exprimem as suas opiniões políticas para perceber o empenhamento político. Mas os leitores não mereciam uma declaração transparente de interesses?

A razão é a mesma da fúria contra Alegre: preservar o poder do PS, seja porque se teme que Sócrates não venha a ter o resultado desejado, seja porque se teme que Manuela Ferreira Leite venha a ter o resultado desejado. Vai dar tudo ao mesmo, só que pelo meio o nosso jornalismo político está a degradar-se a olhos visto para um proselitismo cada vez mais evidente.

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]