ABRUPTO

12.12.08


COISAS DA SÁBADO: CORNUCÓPIA DA ABUNDÂNCIA

De repente, após anos de vacas magras, parece que uma cornucópia celeste derrama milhões sobre alguns. É a “crise”? É a “crise”, mas não é só a crise, é o ano eleitoral, são as eleições. Os milhões que amparam a banca, a indústria automóvel, as pequenas e médias empresas, o imenso programa de investimento público em “betão”, e benesses vastas e variadas, têm uma função no contexto da “crise”, mas servem os objectivos eleitorais do PS a curto prazo. Mas não só: servem também um projecto de controlo estatal da economia privada, que ameaça diminuir os poucos espaços de autonomia da sociedade civil que ainda sobrevivem. Este último aspecto é muito preocupante e disfarça-se por detrás de uma retórica entre o marxista e o keynesiano, que é instrumental apenas para objectivos políticos precisos: dar ao governo mais controle sobre a sociedade, reforçar o poder político de José Sócrates.

O Primeiro-ministro deve estar satisfeito porque todos lhe vão, como os passarinhos, comer à mão. Quem é o banqueiro que vai desperdiçar os avales do estado, mesmo que não precise deles? Quem protesta contra “nacionalizações”, que parecem rodeadas de todas as melhores intenções do mundo e ainda por cima “justificadas” pelas fraudes da ganância? Quem quer ficar de fora de linhas de crédito tão generosas, mesmo que seja para aumentar o endividamento? Quem não quer investimento público que canalize dinheiro para a galáxia da construção civil, mesmo que seja para construir inutilidades ou obras pouco prioritárias? Que grupo económico ou empresário vai nestes tempos dizer ao Primeiro-ministro “não obrigada”, o país precisa de outra política? O resultado é que tudo lá está na entourage das sessões de propaganda do Primeiro-ministro, quando ele promete mais uns milhões, ou inaugura uma maquete de hospital.

O pobre devia desconfiar da grande esmola, mas o pobre tem os olhos e os ouvidos cheios de “crise” e de ameaças. Sabe melhor do que ninguém que o seu emprego está em risco, sabe que deve mais do que devia, sabe que as dificuldades aumentam dia a dia. Na rádio e na televisão a regra é uma comunicação social complacente com o governo quando não abertamente propagandística, temperada por muito futebol, concursos e reality shows. E o pobre acaba também por achar que mesmo que deva desconfiar da largueza da esmola, vale mais pouco do que nada, e no fundo, com a “crise” não há nada a fazer.

A factura virá depois, depois de 2009, para os pobres e para os empresários que povoam os gabinetes ministeriais. Os primeiros ficarão mais pobres, os segundos, se pensam ter veleidades de independência com um eventual governo PS, tirem daí os pensamentos.

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]