ABRUPTO

26.12.08


COISAS DA SÁBADO: AS FESTAS QUE JÁ NÃO SERÃO TÃO BOAS

“Temos agora boas razões para acreditar que a criação de emprego vai prosseguir nos próximos anos”, disse José Sócrates. (...) Em termos de crescimento económico do país, o primeiro-ministro disse também acreditar que o pior já passou. E o ano que agora finda, sustentou, fica marcado pela “recuperação” e por “resultados positivos para o país”.

De acordo com Sócrates, a economia portuguesa, com um crescimento a rondar os dois por cento, “prossegue de forma consistente uma trajectória segura de crescimento”, a que não é alheio o esforço de consolidação das contas públicas, que deixará este ano o défice orçamental abaixo dos três por cento.”.

Da mensagem de Natal de José Sócrates de 2007.
O principal problema de Portugal é que está cada vez mais pobre, mais endividado, cada vez mais vivendo ainda acima das suas possibilidades. Não é nada de novo, só que agora é muito pior, porque a torneira externa que fazia entrar o dinheiro emprestado está a fechar-se. A primeira página do Expresso, que relata as dificuldades da CGD em obter o dinheiro que pediu, mesmo com o aval do estado português, - repito, mesmo como aval do estado português - devia ser sonorizada na Internet com uma sirene do tempo da guerra, daquelas a anunciar que vinha fogo e morte do ar.

O problema anexo a este, é que a maioria das pessoas ainda não percebeu que é assim e continua a viver habitualmente. Até o Primeiro-ministro, sem pudor nenhum, lhes disse que o rendimento das famílias iria aumentar em 2009, então porque é que têm que ter preocupações? Mas, se olharem bem à sua volta, mesmo na cidade, mesmo em famílias onde a função pública parece blindar as pessoas da preocupação do emprego, os sinais do empobrecimento estão a crescer. No seu bairro, as pequenas lojas estão a fechar, no correio as cartas dos bancos estão a crescer, e cada vez é mais difícil empregar um filho. As contas e os impostos pesam cada vez mais. Em vez de ouro compra-se prata. O pensamento de que é preciso poupar no telemóvel apareceu como uma vaga preocupação. As casas estão cada vez mais inacessíveis e os bancos já não emprestam como no passado, por isso os filhos que deviam há muito ter saído de casa, continuam lá, sem futuro, eternos adolescentes. A saúde, se se quiser cuidados mínimos e a tempo, está caríssima no privado.

A vida, mesmo para quem sempre se pensou protegido, parece que parou numa mediocridade sem esperança. Aparentemente continua toda a gente a poder fazer tudo o que fazia antes, mas o custo de o fazer começa a ter outro peso. Como o país tudo encalha. É só uma questão de tempo para começar a ir ao fundo.

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© José Pacheco Pereira
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