ABRUPTO

30.11.08


COISAS DA SÁBADO: O FIM DA BYBLOS



Anda pelos blogues uma variante de schadenfreude freudiana sobre o encerramento da Byblos, uma livraria que desagradava muito a uma espécie de sindicalismo amiguista que olha mais para as penas dos empregados quando a livraria funcionava do que agora que encerrou. Para além disso, a livraria não lhes parecia encaixar nas coteries literárias lisboetas, uma espécie de corpo alheio no circuito dos lançamentos e promoções, que consideram sua propriedade e legitimidade. O resultado é um enorme “eu não disse que isto ia correr mal?”, com a livraria do capitalista do Norte que sabia pouco de livrarias...

Eu também tive muitas dúvidas sobre a Byblos, a começar pela localização absurda, continuada na própria forma como a livraria estava organizada, a quase total ausência de livros estrangeiros, a falta de variedade dos títulos, idêntico ao de todas as outras livrarias. Mas como é que estão as outras livrarias de Lisboa? A Bucholz e a Sá da Costa estão livrarias tristes, a Bertrand do Chiado sombria, um ar de decadência estende-se por todo o lado. O que sobra? A Livraria Portugal que podia estar como as outras tristes na sua zona e não está, algumas Bulhosa que estão boas e as FNAC, que, como livrarias generalistas, são as melhores de Lisboa, pese embora algum sectarismo político na importação de livros estrangeiros em áreas como a história e política. Sobram algumas pequenas livrarias e alfarrabistas, que nos seus nichos de mercado trabalham bem como a Letra Livre. Mas se eu quiser ter uma verdadeira surpresa, tenho que ir a livrarias como a Férin.

Mas sabendo tudo isto, vejo o fim da Byblos sem qualquer espécie do “é bem feito” com que alguns se comprazem. O fim da Byblos para além da desaparição de um grande espaço que permitia muita coisa (mesmo quando mal aproveitado), vai significar um retrocesso no investimento em livrarias e vai dar um sinal de crise para um sector que está já com muitas dificuldades. Quem gosta de livros, não pode comprazer-se com o fim da Byblos.

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© José Pacheco Pereira
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