ABRUPTO

1.11.08


COISAS DA SÁBADO: A GLORIOSA MÁQUINA DE PROPAGANDA DO GOVERNO



Nestes dias, a gloriosa máquina de propaganda governamental está de vento em popa, alimentada por múltiplos personagens, ministros e assessores, gabinetes de comunicação, empresas de comunicação e relações públicas, jornalistas “amigos” e comunicação social do estado, blogues escritos e alimentados por assessores do governo, tudo isto oleado por muito medo de fazer ondas, não vá haver retaliações.

A facilidade com que se fazem acusações sobre a existência de retaliações por parte do governo sobre empresas e pessoas só pode ser comparada com a sinistra indiferença com que são recebidas. O caso mais absurdo e revelador é a célebre lista de credores do estado, onde, de milhares de empresas com dívidas, acabaram por sobrar meia dúzia que, em total desespero de causa, aceitaram fazer parte da lista. A esmagadora maioria das outras empresas não quer ondas com o governo, porque sabe muito bem que, do chefe do PS local ao ministro, podem ser rotuladas de “inimigas” e ficar preteridas em quase tudo.

Os empresários que operam na área da comunicação social, esses então estão na linha da frente de uma “mão invisível” que eles conhecem bem demais e que lhes diz com clareza o que podem ou não podem fazer com os seus jornais e televisões, os “agrados” e “desagrados” do senhor Primeiro-ministro e dos seus pares. A campanha contra o Público é um exemplo típico, a acentuada governamentalização de outros jornais, idem aspas. Acresce que muitas redacções estão mergulhadas até ao pescoço em relações próximas com os gabinetes ministeriais, onde muitos dos seus ex-colegas trabalham e de onde muitos deles também regressaram vindos de assessorias de imprensa de volta às redacções.

Ajudava muito à clarificação da vida política portuguesa que se conhecessem estas transumâncias passadas e actuais, porque elas reflectem reais conflitos de interesse numa parte sensível da nossa democracia, a formação da opinião pública. Ou seja, é importante sabermos quem, na redacção do jornal ou do canal televisivo X ou Y, foi assessor de Marques Mendes, Mário Lino, Sócrates, Santos Silva, Pedro Silva Pereira, Barroso ou Lopes. E, igualmente importante, saber quem exerceu este mesmo tipo de funções nas empresas públicas, ou em qualquer outro cargo cuja nomeação implique confiança política. Convém não esquecer que a função de assesssor na área da comunicação social é das mais sensíveis que existe hoje e de inteira confiança política. E como já vi jornalistas sairem da cobertura de uma campanha eleitoral directamente para os gabinetes daqueles que escrutinavam uma semana antes, valia a pena, nesta era de “transparência”, ir mais longe no registo de interesses. Não são só os ex-ministros que vão dirigir empresas em áreas em que antes governavam, são também os jornalistas que vêem do spin governamental, da colocação de notícias favoráveis e do controlo dos danos, para “informar” nas redacções.

Talvez assim se perceba alguma coisa da enorme eficácia da gloriosa máquina de propaganda do governo, em que este governo socialista mete num bolso todas as pobres tentativas de “centrais de comunicação”. E uma das razões da eficácia é exactamente cobrir os traços, apagar as pegadas e indignar-se muito quando a “independência” dos orgãos de comunicação social face ao governo é escrutinada.

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© José Pacheco Pereira
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