ABRUPTO

22.11.08


COISAS DA SÁBADO: A DERROTA

Não vejo saída para esta questão. As escolas estão ingovernáveis pelo ministério, os professores têm consciência do seu poder e não vêem porque tenham que recuar, o Primeiro-ministro já está a fazer as contas eleitorais. Se a isso se somar concessões ministeriais que levem à suspensão da avaliação, então a derrota será total. Não é impossível que haja uma remodelação governamental para disfarçar a resolução deste “problema” em conjunto com outros (como é possível manter o ministro da Cultura depois das suas declarações?), até porque o desgaste da ministra afecta neste momento um apoio popular que já teve, numa opinião pública perplexa e confusa com o que se passa nas escolas.

No entanto, sobram-me muito poucas dúvidas, como afirmou Miguel Sousa Tavares e, no essencial eu concordo, que seja qual for o valor intrínseco de muitas propostas da Ministra, se ela cair face à contestação generalizada dos professores e dos sindicatos, vai-se seguir um longo período de impossibilidade de reformas, com as escolas e os professores voltando rapidamente ao statu quo ante. Esta prevenção deve ser tida em conta para qualquer alternativa da oposição, em particular no PSD, que nas atitudes que tomar agora pode por em causa qualquer veleidade reformista nesta área quando chegar à governação.

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Li o seu post sobre a derrota da ministra e, francamente, tenho de lhe dizer que não concordo muito com o teor da parte final. O seu diagnóstico é um diagnóstico de carácter generalista, aliás semelhante ao que vi de José Miguel Júdice, no Público. Parece-me que um e outro partem de uma perspectiva de análise clássica, neste caso de uma luta sindicatos / governo, entenda-se sindicatos imobilistas e situacionistas e um governo reformista, independentemente da qualidade da reforma. Quer a sua análise, quer a de José Miguel Júdice, esquecem um pormenor de extrema importância, neste caso – a verdadeira indignação partiu dos professores, confrontados com a realidade utópica e burocrática da aplicação do modelo de avaliação, que os sindicatos até tiveram alguma dificuldade em enquadrar, e foram até ultrapassados pela dinâmica dos próprios professores. A ideia feita de que os professores não querem avaliação é absurda, e sei-o bem porque a minha esposa é professora, das que veste a camisola, das que desempenha mil tarefas na escolha, das que está sempre disponível para mais uma actividade, das que agora raramente tem tempo livre, ocupada com documentos sem fim… Os professores querem avaliação, que destrince quem tem uma dedicação e um empenho que alguns nem se preocupam em diasfarçar, e uma avaliação medianamente inteligente seria aceite pelos professores sem problemas.

De qualquer modo, se as escolas e os professores estiverem menos abertos a reformas, será que é de espantar? Como é possível que se elogie a visão reformista de quem produziu, como pérolas “reformistas”, este modelo de avaliação, o sucesso escolar “fabricado” nas estatísticas, a total ruína do ensino especial, com centenas, senão milhares de alunos com dificuldades integrados nas turmas normais, onde não podem ter a atenção e o apoio especializado de que precisam, a ruína a prazo do ensino da música, o absurdo do estatuto do aluno, ou a banha da cobra que é o ensino do inglês, que serve, em muitos casos, apenas para dar algum dinheiro a insititutos de línguas e quejandos – o meu filho frequenta aulas pagas em vez do gratuito inglês do público, tal é a falta de qualidade - é algo que me espanta e me faz até desconfiar de opiniões dos autores relativas a outras áreas, porque se o conhecimento dessas áreas for a que revelam neste assunto, então revelam uma ignorância e, pior, uma incapacidade de leitura da realidade, que é impressionante.

O país evoluiu muito nestes 32 anos desde a revolução. Já não basta reformar por reformar. Agora exigem-se reformas ponderadas, sensatas, que revelem conhecimento profundo das áreas que se pretende reformar, dos respectivos problemas, das possíveis soluções e das vantagens associadas a cada uma dessas soluções. Já chega de reformas de “textbook”, ou receita, sem qualquer ponderação, porque não só o atraso nas áreas a reformar é grande, como não há recursos para desperdiçar. Que não se veja isso na educação, e que se continue a analisar o actual conflito seguindo a velha cartilha das lutas sindicais, é um sinal, também, da necessidade de novas “vistas” do lado de quem faz análise.

Naturalmente, esta divergência pontual não significa que o Pacheco Pereira não seja, apesar de tudo, dos que, naturalmente, mais sai das visões tradicionais (onde Júdice, por exemplo, de quem fui confesso admirador no gloriosos anos do Semanário, parece ter parado completamente no tempo), mas neste comentário específico penso que a “libertação” não foi total.

(Rui Ribeiro)

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(...) vai uma aposta como é possível reformar profundamente a educação sobretudo se «suspensa» a política educativa da ministra Maria de Lurdes Rodrigues? Não no imediato, mas após as eleições de 2009. Uma parte (provavelmente significativa) dos professores sabe que os pilares do sistema educativo continuam intactos ou até saíram reforçados pela actual governação socialista. Mas também a reflexão crítica pelo comum dos professores. Basta estar nas escolas no dia-a-dia. O PSD, como os demais partidos políticos, só se for por manifesta incompetência é que na vêem o enorme potencial reformista (de facto!) que a educação proporciona. Não deve existir território político tão apelativo quanto o da educação. Os receios que o Dr. José Pacheco Pereira e outros manifestam resultam em grande parte do desconhecimento da realidade empírica. É nestes pormenores que se percebe que quando muitos (aparentemente) manifestam sensibilidade face ao que de facto se está a passar nas escolas, essa postura na verdade assenta numa sensibilidade sobretudo retórica. Espero que este comentário seja, de alguma forma, um antídoto contra o seu (e de outros) pessimismo reformista no pós-Maria de Lurdes Rodrigues. Cá estaremos.

(Gabriel Mithá Ribeiro)

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Escrevo-lhe depois de ter assistido à “Quadratura” desta semana. Gostaria de partilhar consigo algumas considerações sobre aquilo que disse sobre o “estado da Educação”.

Quanto à estima pessoal que diz ter pela titular da respectiva pasta, nada devo dizer. No entanto, e para além das razões estritamente pessoais, tenho dificuldade em compreender a sua interpretação do que se passa no sector. Custa-me acreditar que revele saber tão pouco, pela posição que tem assumido ao analisar a realidade social e política dos últimos anos, mas também porque sempre demontrou ultrapassar a superficialidade nas suas reflexões.

Comecemos por considerar a conduta da Ministra e a condução política do seu mandato. Desde a primeira hora que a sua acção foi pautada pelo ataque e humilhação dos docentes, na assumpção da pior perspectiva do “ataque aos privilégios”. Podemos lembrar muitas dessas pérolas, mas, enquanto docente em início de carreira (cinco anos lectivos), fiquei profundamente ofendido pelas considerações que fez sobre “os candidatos a professores”. Sendo que – todos os anos – são os contratados que asseguram a sobrevivência do sistema público de educação. E são professores. Mais nada. Por outro lado, a ministra mente e ameaça. Mente quando – e estou a escolher o caso mais recente – no “despacho dominical” procura atirar areia para os olhos das pessoas a propósito das faltas dos alunos. Ou seja, redige um despacho que contraria a lei que ela mesma impôs no estatuto do aluno. E diz – só o facto de não ser um ministro de Santana Lopes é que faz com que não se levantem mais vozes críticas a exigir a demissão (e concordo consigo sobre S.Lopes) – que o despacho se destina a esclarecer as escolas sobre a legislação. Escolas, essas, que estão a interpretar e a implementar mal a lei!!! Mas bastava que alguém se desse ao simples trabalho de a ler…para ver que a ministra mente. A todos, alunos, pais e professores.

Ameaça quando, nas reuniões com os Conselhos Exec. das escolas, diz que os professores que não forem avaliados serão penalizados: na progressão (que está congelada e promete assim continuar!); e na obtenção de benefícios financeiros… não conheço alguém que os tenha recebido ou saiba em que consistem! Inacreditável! Diz, quem esteve presente nestas reuniões, que são sessões de pressão e propaganda. Em que é afirmado que todo o processo está a correr bem a nível nacional e que a “resistência” é mínima e etc e tal…

O último sinal de pressão foi o envio de uma mensagem para o correio electrónico dos docentes, exigindo o preenchimento de um formulário (Objectivos Individuais) cuja natureza é confidencial. Apenas a Direcção da escola e o avaliador podem aceder a esses dados e, no entanto, quer a ministra que esses dados sejam “carregados” para uma base de dados pública! A confidencialidade desses dados é referida pela própria legislação (monstruosa) que o ME produziu. Como pode ver, estes sinais não são senão sinais muito maus da confusão e do autoritarismo que pautam a acção desta equipa ministerial.

Em conclusão, não sei como pode desconhecer estes comportamentos (e são muitos mais, garanto-lhe) e afirmar que tem “simpatia” pela ministra. Para além da estima pessoal, sublinho, é-me incompreensível que possa subscrever estas condutas.

Ainda não me pronunciei sobre a qualidade das medidas que se querem impôr na Escola. Sublinho, inicialmente, que “os projectos” são ambiciosos… Numa legislatura querer “martelar” um Estatuto dos Professores, um Estatuto dos Alunos, um modelo de gestão, novos concursos para docentes, abrir a escola à formação (CNO, EFA, CEF) em concorrência com os centros de formação, mudanças nos programas e currículos escolares, anulação de exames nacionais – vejam-se as “experiências” com os exames de matemática para furjar resultados, quem sabe se assim se podem ridicularizar os exames e o seu papel importante no percurso das aprendizagens… enfim, é de tirar o fôlego. Não é necessário ser grande conhecedor da gestão política dos governos, mas parece-me que impôr todas estas “coisas”, sem participação dos seus principais agentes, daria mau resultado. Seja na escola ou noutra instituição qualquer.

Consideremos a divisão artificial da carreira dos professores – que é incompreensível e não tem paralelo em toda a Europa. O próprio Provedor de Justiça “arrasou” este processo fracturante, apontando fragilidades e até ilegalidades. Mas era para seguir… a caminho do futuro. Decidiu-se, não se sabe porquê, que os sete últimos anos é que eram relevantes e apenas as funções burocráticas exercidas seriam determinantes para ser titular. Tal foi a confusão, que houve outro concurso extraordinário para “calar” algumas críticas. Por muito menos “caiu” o ministro David Justino! Adiante.

Considere-se este processo de avaliação, a sua injustiça e (até) inutilidade. No ano lectivo transacto, as inúmeras tabelas que tive de preencher continham parâmetros, critério e descritores que não se adequavam ao trabalho que estava a fazer na escola. De modo sustentado, fiz referência a essa contradicção. O que repeti em inúmeros campos de preenchimento. Em conclusão, a Direcção da Escola e a Coordenação Disciplinar avaliaram o meu desempenho com a classificação de Muito Bom! Que não tive por causa de quotas…mas o que interessa é aquela contradicção. Para que serviram as horas de reuniões, as decisões e consensos que se tiveram que construir em torno do preenchimento das referidas tabelas? Parece que para nada. Ainda por cima essa avaliação não teve efeitos para o concurso do presente ano. Sórdido.

Deixo-lhe outra consideração. Estas “reformas” contemplam também um exame para acesso à carreira docente. O que, sem alterar o regime de formação, é bizarro. Ora veja. No meu caso, parece que terei de fazer essa prova de acesso!?!?! Ou seja, depois de obter uma licenciatura, fazer o biénio de formação (com estágio e avaliação rigorosa na UL - FLetras) e exercer a docência durante cinco anos lectivos tenho que realizar a dita prova de acesso!?!? Se lhe disser que já exerci as funções de Director de Turma, Director Curso EFA, Mediador, Professor Corrector de Exames Nacionais (entre outras) e ainda assim tenho que fazer a dita prova de acesso. Considera correcto? Considera justo? Para não falar na natureza da prova: três componentes em que o candidato não pode obter, em nenhuma delas, classificação igual ou inferior a 14 valores. Bom, se alcançar 19, 19 a duas delas e 14 na terceira… nunca mais serei professor! Que já fui! Sem mais palavras.

Por fim, deixe-me dizer-lhe que espero bem que esteja enganado. Ou seja, que estas “reformas” não passem da secretária da ministra e que, depois dela, se possa RAPIDAMENTE estabelecer, de modo consequente e sustentado, as regras e os princípios para a Educação. Jamais 25 anos de adiamentos.

Em anterior texto que lhe enviei e que publicou no seu blog, disse que este problema agudizou-se, também, pelas dificuldades na representação sindical e institucional dos seus agentes. O que se provou nas diferentes manifestações em Lisboa (8/11 e 15/08). Esperemos que desta vez seja possível fazer a “quadratura”… uma proposta? Acabe-se com este modelo de avaliação (que a ministra elogiava há dez dias! E que demorou um ano e meio a perceber que teria que mudar!), regresse a calma às escolas, reabilite-se o papel dos exames nacionais para todas as disciplinas finais de cada ciclo e apetreche-se as escolas das condições básicas necessárias aos desafios do sec.XXI. Começar pelo Magalhães é um mau presságio de que não passaremos das aparências.

(Luís Vilela)

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Na sua coluna da revista Sábado, de 20/11/2008, referiu um artigo de Miguel Sousa Tavares acerca da crise dos professores. Por sinal não concordo nada com as opiniões de MST sobre esta matéria.

Porque há aqui um aspecto que parece escapar a muitos dos analistas. E, curiosamente, apesar de eu não ser um entusiasta da liderança de Manuela Ferreira Leite, reconheço que a senhora disse recentemente uma coisa muito certa (rapidamente desvirtuda pelas habilidades retóricas dos socialistas a propósito de uma pretensa gafe) e cito de memória, “em democracia, as reformas não se fazem contra as classes profissionais". É isso mesmo.

Não deveria passar pela cabeça a nenhum primeiro ministro dizer que vai meter na ordem, por exemplo, os médicos, ou os banqueiros, ou os juízes. Ou, no caso em apreço, os professores.

Todavia, convencido de que teria grande aceitação popular, Sócrates enveredou por uma política de confrontação corporativa. Mas Sócrates é apenas esperto. Não é inteligente. E os políticos espertos, mas não inteligentes, são dados a comportamentos arrogantes como aqueles que temos testemunhado em Sócrates.

Infelizmente, apesar das recentes palavras de MF Leite, o PSD não tem tirado os necessários dividendos da asneira cometida por Sócrates quando anunciou, ou a Ministra da Educação por ele, que ia proceder à avaliação dos professores. Foi um perfeito disparate, com as consequências que se observam.

Começa logo por colocar os professores em cheque perante os seus alunos. Quando o respeito dos alunos pelos professores já tinha descido a níveis insuportáveis, a última coisa que os professores necessitavam era que o Governo viesse anunciar a avaliação deles próprios, ao mesmo tempo que facilita a indisciplina e o regabofe dos alunos. Para os professores isto só podia ser encarado como mais uma desconsideração, a somar a tantas outras. As gigantescas manifestações não são apenas contra o processo de avaliação.

E foi um disparate, porque a avaliação dos professores se pode fazer mediante um método indirecto, com muito mais alcance e muito mais objectividade do que as trapalhadas que uns burrocratas inventaram. Trata-se, obviamente, da avaliação dos alunos, um processo que quase se poderia dizer “dois em um”, na medida em que tanto avalia os resultados dos alunos como o trabalho dos professores.

Não venham dizer-nos que é impossível pôr em prática um programa de exames nacionais rigorosos, concebidos e classificados de forma independente e com o cuidado de ser efectuada uma normalização estatística extensiva ao território nacional, a fim de se poderem comparar resultados em escolas dispersas e diversas.

Pergunte-se aos professores se concordam. Não acredito que recusem.

(Jorge Pacheco de Oliveira)

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(...) gostaria de partilhar consigo este belo texto do século XVI sobre os professores. É uma leitura deliciosa e tão actual.

(Ilídio Sacarrão Martins)

“Nada deve ser mais importante nem mais desejável (…) do que preservar a boa disposição dos professores (…). É nisso que reside o maior segredo do bom funcionamento das escolas (…).”

“Com amargura de espírito, os professores não poderão prestar um bom serviço, nem responder convenientemente às [suas] obrigações.”

Recomenda-se a todos os professores um dia de repouso semanal: “A solicitude por parte dos superiores anima muito os súbditos e reconforta-os no trabalho.”

“Quando um professor desempenha o seu ministério com zelo e diligência, não seja esse o pretexto para o sobrecarregar ainda mais e o manter por mais tempo naquele encargo. De outro modo os professores começarão a desempenhar os seus deveres com mais indiferença e negligência, para que não lhes suceda o mesmo.”

Incentivar e valorizar a sua produção literária: porque “a honra eleva as artes.”

“Em meses alternados, pelo menos, o reitor deverá chamar os professores (…) e perguntar-lhes-á, com benevolência, se lhes falta alguma coisa, se algo os impede de avançar nos estudos e outras coisas do género. Isto se aplique não só com todos os professores em geral, nas reuniões habituais, mas também com cada um em particular, a fim de que o reitor possa dar-lhes mais livremente sinais da sua benevolência, e eles próprios possam confessar as suas necessidades, com maior liberdade e confiança. Todas estas coisas concorrem grandemente para o amor e a união dos mestres com o seu superior. Além disso, o superior tem assim possibilidade de fazer com maior proveito algum reparo aos professores, se disso houver necessidade.”


"I. 22. Para as letras, preparem-se professores de excelência
Para conservar (…) um bom nível de conhecimento de letras e de humanidades, e para assegurar como que uma escola de mestres, o provincial deverá garantir a existência de pelo menos dois ou três indivíduos que se distingam notoriamente em matéria de letras e de eloquência. Para que assim seja, alguns dos que revelarem maior aptidão ou inclinação para estes estudos serão designados pelo provincial para se dedicarem imediatamente àquelas matérias – desde que já possuam, nas restantes disciplinas, uma formação que se considere adequada. Com o seu trabalho e dedicação, poder-se-á manter e perpetuar como que uma espécie de viveiro para uma estirpe de bons professores.

II. 20. Manter o entusiasmo dos professores
O reitor terá o cuidado de estimular o entusiasmo dos professores com diligência e com religiosa afeição. Evite que eles sejam demasiado sobrecarregados pelos trabalhos domésticos."


(Ratio Studiorum da Companhia de Jesus (1599))

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Ainda bem que o vejo a contrariar um pouco o espírito das posições de alguns professores a que tem dado acolhimento no seu blog!

Como pai, ex-marido, cunhado, genro e amigo de professores dos ensinos básico e secundário, conheço o meio o suficiente para ter algumas opiniões com algum fundamento, de que aqui partilho consigo algumas:

· Dizia Saldanha Sanches há dias na TV que as reformas eram difíceis “porque os professores se habituaram desde há 20 anos a não serem avaliados”. Ri-me, porque nesta nossa geração é frequente a falta de noção do quão longínquo já é o 25 de Abril. Ele queria dizer “há 35 anos”, e não há 20! Ora 35 anos é uma vida, o que significa, pura e simplesmente, que na verdade os professores actuais jamais foram avaliados enquanto tal! Mas também o não eram antes do 25 de Abril! Quem o era, era os alunos, e só nessa medida indirectamente os professores! Havia exames todos os anos na escola primária, havia um exame especial de admissão aos liceus, havia exames sobre toda a matéria dos ciclos correspondentes aos actuais 5º e 6º anos, depois para o dos anos 7º, 8º, e 9º, depois para o do 10º e 11º, e depois disso tudo ainda havia um exame nacional de admissão às Universidades! No que corresponde hoje ao 9º anos, por exemplo, tínhamos uma semana inteira de exames escritos, com duas provas por dia, a que em regra se seguiam depois provas orais! Claro que era fácil medir os professores pelos resultados, nesse tempo! Nada mais era preciso!

· Temos de admitir que os programas eram bem feitos, os livros únicos adoptados pelo Estado muito cuidados, havia livros de problemas semi-oficiais muito úteis (do Palma Fernandes), colecções editadas de exames passados, e a tarefa dos professores era, assim, fácil. Você já deu uma vista de olhos pelos programas actuais, e pelos manuais? Sabe quem faz os manuais, que competências tem para o efeito? Pois digo-lhe: nas áreas que melhor conheço, Matemática e Física, acho que os autores dos programas e de certos manuais deviam ser presos!!! O que se faz são autênticos crimes contra Portugal!

· Claro que não defendo o regresso ao passado. O mundo mudou. Simplesmente, tudo o que era uma filosofia de educação realista (ainda que elitista) foi substituído por uma amálgama de ideias pós-modernas (chamam-lhe assim) simplesmente catastróficas vulgarmente conhecidas por “eduquês”. E é lamentável que apenas Paulo Portas e o seu ex-camarada Nuno Crato batalhem contra essa verdadeira essência do mal na educação.

· Ora substituir a reforma profunda de toda essa matéria – programas, manuais, tipos de aulas, critérios e exigências de avaliação aos alunos, até a arquitectura dos edifícios escolares – pela guerra aos professores é tão inútil como querer resolver a crise financeira actual com a guerra aos empresários! E você sabe tão bem como eu que não é possível “pôr na ordem” os capitalistas sem sangue, muito sangue e terror; como poderá pensar que com os professores seja diferente? E como poderá pensar que isso teria algum resultado útil com os professores, se nunca o teve com os capitalistas?

(José Luís Pinto de Sá)

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No meu entender, centrar a questão da reforma do sistema de ensino na avaliação dos professores é não só profundamente errado como irrelevante, na perspectiva geral do desempenho do sistema de ensino como um todo.
Enquanto as escolas, ou quem as administra, não dispuserem de instrumentos que lhes permitam seleccionar os professores usando critérios de "mercado" ou despedir professores por incompetência ou desempenho insuficiente, a avaliação de desempemho apenas serve para alimentar o que se tem visto.
A ministra podia bem ter feito o trabalho de casa e estudado como é que grandes mutinacionais que empregam muito mais pessoas que o ME fazem avaliação de desempenho.
Mas claro, enquanto se forem criando e elimientando casos como este, a existência dos burocratas da 5 de Outibro vai-se justificando.
Uma nota final. Parece-me estranho que no meio da gritaria, não se houve ninguém na ala conservadora a dizer que a solução é deixar o sistema definhar - dar cheques-educação aos pais e deixá-los escolher a escola que quizerem para os filhos.

(AC)

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Quanto á Educação sinto-me literalmente intoxicado de Informação. Eu não sou professor dos primeiros ciclos por isso tenho tentado perceber o que se passa e é difícil. Se alguma coisa as últimas semanas me ensinaram foi a confiar nas minhas impressões: a Informação não leva ao Conhecimento. Por isso apenas duas notas breves, a primeira com um pensamento recente, a outra com um pensamento que já há largos anos mantenho:

1. Se Portugal ficou tão bom em termos de resultados no último ano, parece que é possível melhorar o sistema de ensino sem avaliação. Se a avaliação de professores não é uma questão moral mas simplesmente pragmática, então pragmaticamente deveríamos rever os comentários da ministra e do primeiro-ministro quando saíram as notas dos exames do ano passado: já temos cá um "milagre educativo", e como é esse o nosso objectivo, como justificar que a ausência de avaliação não foi uma das bases desse milagre? O que acontece se quando for instituída a avaliação baixarem os resultados nacionais? É que, ou existe uma mentira nos resultados ou existe uma mentira nos objectivos da avaliação.

2. A questão da avaliação de um professor que já tem o título "professor" devia ser olhada num âmbito mais alargado. É que para ser "professor" ele já foi avaliado. Já vem com uma garantia. Mas quem é que lhe deu a garantia? Há muitos anos que me espanto com a falta de atenção para as Escolas de Educação. E acho surpreendente que elas passam sempre "por baixo do radar" e ninguém fale disso. É que aí já estamos a falar do Superior. E o Superior anda com problemas, certo? Eu conheci casos (poucos) de pessoas que se formaram numa Escola de Educação. E tive acesso até a alguns trabalhos escritos "assustadores". E ouvi histórias. Histórias de quem pede ajuda aos colegas porque não sabe dividir com decimais; histórias de quem não sabe escrever; histórias de quem não sabe História. Esta questão é até parecida com alguns temas da saúde pública: há áreas onde não seria preciso gastar milhões com tratamento se se gastasse algumas centenas com prevenção e educação. Se calhar, uma das coisas que faz falta é olhar para as ESEs e perguntarmo-nos "o que é um mau professor e de onde é que ele veio?" A única pessoa que eu vi falar publicamente sobre isto foi Jorge Sampaio e fê-lo de um modo tímido, já nem sei a que propósito.

É evidente que toda a gente olha para esta sugestão com um gigantesco encolher de ombros. Porque não é isto que está em questão. Os governantes querem lá saber do processo de formação de um professor, eles vêem-se como patrões; os professores querem lá saber de uma questão que já não lhes diz respeito, eles são é empregados, fizeram o curso, o que lá vai lá vai; os pais querem lá saber da qualidade dos professores desde que os professores lhes passem os filhos; os alunos querem lá saber da formação dos professores, querem é ter as notas que lhes permitam não ser chateados pelos pais; os alunos das ESEs querem é fazer o curso possível , não querem mudanças, querem algo que lhes permita sobreviver e de qualquer maneira já devem viver angustiados com a ideia do que os espera; os presidentes das ESEs (públicas e privadas) como qualquer presidente de empresa, querem apenas "mostrar serviço" e agir como RPs das Instituições, não querem ter de se justificar (a qualidade dos professores é algo que não tem nada a ver com eles); os jornalistas querem sangue, não querem uma discussão que obrigaria a muita investigação e que seria forçar uma situação que está demasiado calma (é bem melhor espicaçar mais uma situação que já se encontra quente per se), e onde não há conflitualidades claras.

O problema, tal como tantos outros em Portugal, é sistémico e não mecânico, por isso não só não estamos a atacá-lo na globalidade, como também, seja lá qual for o resultado da presente discussão, as implicações serão bem mais vastas e imponderáveis do que julgamos.

(PL)

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O sistema de avaliação , ou os sistemas de avaliação que o Estado criou para a Administração Pública ( SIADAP) e para os Professores são em si sistemas adaptados e fraudulentos .

O sistema baseado no sistema Balanced Scored Card é um sistema ultrapassado , aplicado nos anos oitenta ás grandes empresas … e onde falhou redondamente , como no caso estudado das empresas farmaceuticas.

Acresce que o sistema foi criado na sua forma lusitana, com uma malformação deliberada … a aplicação compulsiva de quotas de 5 % para Excelentes e 25% para Muito Bons . Esta malformação pretendia de forma … administrativa … impedir a progressão de carreiras e … inventado pelas Finanças …assim conseguir controlar a massa salarial e o Orçamento de Pessoal dentro dos parâmetros gerais do PEC. Isto evitaria a enorme quantidade de progressões automáticas do anterior sistema…e carga Orçamental.

Ora o sistema de quotas é … pasme-se … que não se vê ninguém adjectivar a coisa … uma fraude. Como as quotas são distribuídas uniformemente por todos os serviços e cegamente, cria-se uma mediocracia e não uma meritocracia.

Pior.

Caso algum avaliador supere as quotas que lhe estavam atribuídas , as fichas são-lhe devolvidas até o mesmo degradar aqueles Muito Bons ou Excelentes a mais que inicialmente considerou .Ou seja não há avaliação em consciência , e existe uma completa manipulação para a injustiça , passando por considerar uma pessoa competente como incompetente .Já se viu na TV uma professora avaliadora admitir que isso lhe aconteceu.

Sobre o ponto de vista do bom senso , não será possível haver menos Excelentse e Muito Bons que os fixados 5% e 25% , ou mais que os 5% ou 25 % administrativamente fixados ????

É muito difícil de compreender ????

Ora reformas baseadas em fraude , injustiça , e mentira , por mais que necessárias , devem ser combatidas até a justiça prevalecer … e se isso não se vê no SIADAP é porque há um silencio comprometido na sua aplicação , e uma completa desunião dos trabalhadores , divididos entre milhares de categorias , de coveiro a assessor principal .Já os professores estão unidos e se com isso derem sentença de morte neste ímpio sistema absolutamente injusto … então assim seja .

Não se pode combater um problema , com a aplicação de soluções injustas e fraudulentas , atentatórias do respeito por quem avalia e por quem é avaliado.

Se isto não é evidente , então não sei que mais possa ser demais claro e transparente, coisa que estes sistemas de avaliação de modo algum o são.

(António Carrilho )

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Explorando a ideia que exprimiu ontem na Quadratura e sem qualquer capacitação académica específica ocorreu-me o seguinte:
Por que não contar para a avaliação do professor uma ponderação entre as notas atribuídas pelo professor aos alunos e os resultados conseguidos por estes nos exames nacionais?
Eliminavam-se as margens (as maiores disparidades e as maiores similitudes) e estabelecia-se uma formula devidamente ponderada.
Talvez isso eliminasse a injustiça de contar apenas as notas dos exames: um professor de Boticas nunca teria nesse factor de avaliação uma boa nota enquanto os profs. de uma boa escola urbana tinham melhor nota por algo que não depende só do seu desempenho mas sim do meio social do aluno.
Acho que não é nada que um bom estudo comparativo e uma boa fórmula temperada de sensatez adequada não conseguissem.

(Luís Mota Bastos)

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