ABRUPTO

27.10.08


POEIRA DE 27 DE OUTUBRO: Εν Τούτῳ Νίκα

Hoje, há mil seiscentos e noventa e seis anos, Deus falou com o Imperador Constantino quando este se estava a preparar para uma batalha junto da pons Milvius, uma ponte que ainda lá está sobre o Tibre, por onde correm as suas águas toscanas. Os namorados romanos vão lá com um aluquete e prendem-no a um poste, fazem as juras que querem, e deitam a chave ao rio. E acreditam. Com o peso, o poste caiu e foi substituído por um mastro de aço, que também acabará por cair. Na Rede pode-se lá deixar lucchetti virtuais.

Foi ali perto que Deus apareceu em sonhos a Constantino dizendo-lhe que, com este "signo", venceria a batalha contra Maxêncio. O "signo" era o Chi Rho do Χριστός grego e é pouco provável que tenha sido mesmo usado naquela batalha, embora existam provas arqueológicas de que, mais tarde, os soldados de Constantino o tinham gravado nos escudos e nos capacetes. Mas a intenção deve ter chegado, porque Constantino venceu a batalha e o mundo do nosso lado ocidental ainda é cristão. Ele acreditou, como os namorados, no "signo".

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Acho divertido que se fale do aniversário de um evento que teve lugar na antiguidade, pois é praticamente certo que se vai fazer referência a isso no dia errado. No caso do sonho de Constantino antes da batalha junto da pons Milvius: a que fez referência, escreveu que este teve lugar «há mil seiscentos e noventa e seis anos», ou seja, a 27 de Outubro de 312. Mas o evento teve lugar nessa data pelo calendário juliano e o nosso calendário é o gregoriano, pelo que há um desfasamento (pequeno, neste caso; se não estou em erro, é de três dias somente). Isto faz-me lembrar que a estreia do filme 1492, de Ridley Scott, teve lugar a 12 de Outubro de 1992, a fim de calhar no 500º aniversário da chegada de Colombo à América. Só que, devido ao desfasamento a que me referi, a estreia deveria ter tudo lugar a 21 de Outubro, pois, pelo calendário gregoriano, foi a 21 de Outubro de 1492 que teve lugar o evento central do filme.

(José Carlos Santos)

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Relativamente ao desfasamento referido por José Carlos Santos, suponho que se refere ao facto de, aquando da adopção do calendário gregoriano em 1582, em que a uma quinta-feira, 4 de Outubro (final do calendário juliano) se seguiu a sexta-feira, 15 de Outubro (início do calendário gregoriano), dez dias (5 a 14 de Outubro, inclusive) foram eliminados. Este acerto permitiu corrigir a deriva que se vinha acumulando entre o ano civil e o ano solar. A fórmula de cálculo então adoptada para manter os dois valores muito próximos, leva a que nem todos os anos divisíveis por 4 sejam bissextos: se também forem divisíveis por 100 e não por 400, são anos comuns. Por exemplo, 1700, 1800, 1900, 2100, 2200, 2300, 2500, … correspondem a anos comuns, enquanto 1600, 2000, 2400, … correspondem a anos bissextos. Assim, durante mais de 5000 anos não temos que nos preocupar com o assunto.

Curiosamente foi o Imperador Constantino I que, em 325 (13 anos depois do acontecimento que refere), convocou o Primeiro Concílio de Nicaea, em Bithynia (actual Iznik, Turquia), onde foi também definida a data para celebrar a Páscoa, como sendo o primeiro domingo depois da primeira lua cheia que se seguia ao equinócio vernal (o ponto vernal ocorre à volta do dia 20 de Março). A reforma gregoriana, mil duzentos e cinquenta e sete anos depois, permitiu que o ponto vernal voltasse a ocorrer a 20 de Março, com a eliminação dos dez dias acima referidos.

Outra curiosidade: a Grã-Bretanha e parte dos EUA só adoptaram a reforma em 1752, como pode confirmar quem trabalha com sistemas Unix/Linux, executando o comando “cal 9 1752”, onde se verifica que, a 2 de Setembro, quarta-feira se seguiu 14 de Setembro, quinta-feira.

(Pedro Fernandes)

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Ao comentário do seu leitor Pedro Fernandes, gostaria de acrescentar que a Rússia só adoptou o calendário gregoriano em 1918, após a chegada dos bolcheviques ao poder. É por isso que os aniversários da «revolução de Outubro» têm lugar em Novembro (25 de Outubro de 1917 no calendário juliano corresponde a 7 de Novembro do mesmo ano no calendário gregoriano).

(José Carlos Santos)

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© José Pacheco Pereira
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