ABRUPTO

8.10.08


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ÁTOMOS E BITS

de 8 de Outubro de 2008
 

Desta crise  internacional vai ficar mais alguma coisa do que os estragos financeiros e económicos, vão ficar os estragos nas ideias, com a ascensão das piores e velhas ideias sobre o estado e o socialismo, que olham para o lado e dizem: "estão a ver como o capitalismo é como nós dissemos", etc., etc., como se tivessem um qualquer upper level moral que os eventos justificassem. Se houvesse alguma frieza no pensamento e não se fosse do tipo de Maria vai com as outras, ver-se-ia que não há assim tanta novidade no que se está a passar, que os tenebrosos teóricos do "neo-liberalismo" não incluíssem nas suas análises. Se há coisas que todos disseram é que o sistema inclui o risco, implica o risco, só funciona com o risco, que deve ser aquilo que Delors achava que vinha do "casino" para a economia. Ou que outros disseram, como Marx, - sim Marx como teórico do capitalismo, -  ou Schumpeter. Ou que Nick Leeson, que afundou o velho banco Barings, não mostrasse que se podia fazer a partir de uma das mesas de roleta, o computador do banco. E vai daí o apelo ao estatismo, às nacionalizações (um absurdo sequer usar neste contexto a palavra pelo menos em Portugal...), e a outras barbaridades que pretendem tirar conclusões ideológicas de medidas de emergência, não muito diferentes das que se tomam na guerra. Na guerra também há limitações de liberdade e ninguém pode dizer que em sociedades democráticas isso significa o retorno à ditadura.

Se novidade há ela encontra-se  não tanto no capitalismo cuja "morte" alguns saúdam pela enésima vez, mas no contexto da globalização, que amplifica a crise, e pelo facto de ela estar mais do lado de "cá" do que do lado de "lá". Isto revela que se deveria dar mais atenção aos componentes políticos desta crise, que não tem apenas a ver com a economia, mas com aquilo que grosseira e provocatoriamente se pode chamar a "decadência do Ocidente". .

Mas há pelo menos um passo seguinte desta crise que convém desde já revelar: é que, se aumentar o peso do estado na economia, se se entrar num processo de hiper-regulação, que na prática vai dar ao poder político instrumentos para uma maior intervenção na economia real, ou seja, torná-la irreal, o próximo passo vai ser o proteccionismo na Europa. Sim porque com esta receita a produtividade da economia europeia vai diminuir significativamente, e na competição global isso só pode sobreviver com maior proteccionismo.

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© José Pacheco Pereira
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