ABRUPTO

31.10.08


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 31 de Outubro de 2008

Do modo como estão as coisas nas pouco sadias relações Portugal - Angola, feitas de muitos silêncios e cumplicidades, de jogos de interesses e de ameaças públicas e privadas, as notícias do Público de hoje sobre o envolvimento português nos mecanismos de corrupção das altas esferas do governo angolano e do MPLA, mostram muita coragem. Essa coragem é tanto maior quanto uma pesquisa com o nome de Falcone, personagem chave do processo que corre em França, nos motores de busca dos outros jornais diários portugueses não revela nenhum especial interesse no processo em curso e que diz muito respeito a Portugal. Se diz.

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Multiplicando-se os telefonemas que o PM desta nação alegadamente “europeia” faz para a comunicação social, torna-se interessante e até recomendável recorrer aos benefícios do “choque tecnológico”, que nos dá a possibilidade de ver e ouvir novamente alguns debates do passado recente na Assembleia da República. Num deles, o líder da oposição dizia isto ao PM da altura, corria o ano de 2004:

“...e esse caso não é resolvido pelo seu silêncio. Esse é um caso a que não pode fugir. E é o caso seguinte: é o caso de um ministro do seu governo, que fez uma pressão ilegítima junto de uma estação privada e que conduziu à eliminação de uma voz incómoda para o seu governo. E o senhor primeiro-ministro desculpar-me-á, mas quero dizer-lho com clareza: esse episódio é um episódio indigno de um governo democrático e é um episódio inaceitável. E isso é uma nódoa que o vai perseguir, porque essa nódoa não vai ser apagada facilmente, porque é uma nódoa que fez Portugal regressar aos tempos em que havia condicionamento da liberdade de expressão. E peço-lhe, senhor primeiro-ministro: resista à tentação do controle da comunicação social. Não vá por aí, porque nós cá estaremos para evitar essas tentações.”

Assim sendo, estaremos agora entre 1936 e 1937, no início da tentação, ou então este Sócrates não é o mesmo, é outro.

(Paulo Loureiro).

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© José Pacheco Pereira
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