ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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8.8.08
O Primeiro de Janeiro foi o meu primeiro jornal, como era normal para a classe média portuense que o lia, assim como o Comércio do Porto, e que considerava o Jornal de Notícias demasiado sensacionalista. Era o Janeiro e o Notícias, como se pedia nas bancas, sendo que do Notícias se dizia que se se dobrasse “escorria sangue” dadas as notícias de acidentes e crimes que lhe enchiam as páginas. O Comércio era muito popular a Norte, no Minho, no Douro, pela rede muito fina que tinha de correspondentes locais, cujas notícias são muitas vezes a única maneira de esboçar uma história local para pequenas vilas e aldeias. O Janeiro, pelo contrário era uma instituição respeitável, muito parecido com a cidade do Porto, no seu trajecto de jornal liberal, burguês, moderadamente oposicionista, ligado aos interesses industriais do Norte e ao comércio portuense que servia a cidade e o seu hinterland duriense. Era também (aqui com o Comércio cuja página literária rivalizava com a do Janeiro) um jornal com uma página literária controlada por gente ligada à Presença na qual se podiam encontrar, no meio de uma coluna amarela e vermelha que lhe dava cor, excelentes artigos sobre livros, ideias e correntes. Havia também notícias, uma página para os cinemas e os teatros em que se podia perceber que filmes havia e que tipo de filmes eram, e na última página o “Reizinho”, o “Príncipe Valente” e o “Coração de Julieta” (que também aparecia em tira no corpo do jornal), numa secção de banda desenhada igual à dos grandes jornais americanos. Se isto não era um jornal a sério, eu não sei o que é um jornal a sério. Por isso, parte de mim vai com o Primeiro de Janeiro para o túmulo do tempo, e tenho dificuldade em identificá-lo com aquilo que se publica hoje com o mesmo título. Mas a vida é assim. (url)
© José Pacheco Pereira
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