ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
|
20.6.08
NUNCA É TARDE PARA APRENDER: AS PRIMEIRAS PALAVRAS (3) Frederico Lourenço (Organização, tradução e notas), Poesia Grega de Álcman a Teócrito, Lisboa, Livros Cotovia, 2006. É quando escrevem (falam, cantam) sobre o corpo, o amor, o sexo, a velhice, que as palavras gregas parecem mais puras e cristalinas, menos inquinadas por séculos de repetições e variantes, menos poluídas. Elas estão a ser ditas pela primeira vez e têm a força das palavras ditas pela primeira vez. E como já não as podemos dizer nunca mais pela primeira vez, a primeira vez tem a maldição de ser irrepetível. Veja-se Safo em Tecer é Impossível: Doce mãe, não sou capaz de urdir esta trama! Estou subjugadaCatorze palavras e está lá tudo. A rapariga ainda conta à mãe, - deve ser muito nova - , do presente da "esbelta Afrodite". Γλύκεια μᾶτερ, οὔ τοι δύναμαι κρέκην τὸν ἴστον,Frederico Lourenço escolheu "subjugada" na tradução, podia ter escolhido "quebrada", mas a ideia do "jugo" do desejo, no sentido de ter perdido a vontade própria, reforça a perturbação sentida pelo "rapaz". A rapariga já não consegue tecer, mudou de vida. Anacreonte não fala de "jugo" fala de uma "machadada": Como um ferreiro de novo o Amor me golpeouA imagem está de novo muito presa a uma simplicidade quotidiana, a uma cena que foi comum no passado, que quem passasse podia ver: um ferreiro golpeia o ferro em brasa numa bigorna e arrefece-o numa tina de água. Mas a água tornou-se uma "corrente invernosa" e, de novo, sem sair da natureza, - estamos num mundo em que há muito poucas coisas artificiais, para além das roupas, das armas, da cerâmica, de meia dúzia de utensílios - , emerge a perturbação. (Continua, em breve.) (url)
© José Pacheco Pereira
|