ABRUPTO

2.6.08


COISAS DA SÁBADO: TREINOS E TESTES DO PCP



Não são só os futebolistas que andam em treinos e testes, o PCP também. Não em Viseu, mas no Porto. O PCP é o partido português com maior experiência na agitação, na manifestação, na concentração “espontânea” ou não, na conflitualidade de todo o tipo. Daqui não vem mal nenhum ao mundo, desde que tudo se passe na legalidade. Fazer manifestações, greves, protestos é uma marca típica da democracia e uma saudável sociedade contém uma dose considerável de actos de protesto cívico, e, desse ponto de vista, a sobrevivência da “ordem” e do “respeitinho” salazaristas ainda se revela na demonização desses actos.

O PCP sabe que a emergência de um “movimento social” (palavra de costas largas) com sucesso exige uma gestão muito cuidada dos avanços e recuos, e o melhor exemplo disso foi a componente sindical da luta dos professores, em que desde o crescendo da agitação até ao recuo organizado, tudo foi cuidadosamente medido. E era difícil, porque o PCP sabe melhor conduzir lutas que caibam nas baias sindicais, ou seja lutas minoritárias e limitadas, do que um movimento que cresceu mais do que a capacidade dos sindicatos de o controlar e lhes escapava à máquina. Ou seja, um movimento perigoso, pasto para moderados fortes ou esquerdistas sem freio, os dois riscos que o PCP não gosta de correr.

Por isso, é interessante ver o PCP a treinar-se para “novas lutas”, com o movimento contra o pagamento das SCUTs no Norte, uma marcha lenta na estrada (aceitável), seguida de uma tentativa de criar uma paralisação no centro do Porto (já menos aceitável). À frente da manifestação, gente conhecida do PCP, a medir o pulso às coisas, prestes a recuar, caso começassem a haver problemas que virassem a população contra os manifestantes, pronta a puxar a coisa mais para a frente até ao limite da confrontação com a polícia, com as televisões presentes.

Sabem-na toda, estes velhos militantes, a treinar uma variante do boicote da Ponte 25 de Abril, não para já, mas mais para cima das eleições, agora contra o PS e contra alguns dos idiotas úteis socialistas que andaram a brincar a quebrar a lei, porque era contra Cavaco. Eles sabem que é um jogo arriscado, porque a radicalização é uma arma que tanto dispara para a frente como para trás, tanto pode ajudar a consolidar os votos que da esquerda do PS têm ido para o PCP e o BE, como favorecer uma desagregação do PS (que só desejam na medida certa) a favor do PSD. Mas esta direcção do PCP está mais disposta que a anterior a ir mais longe, sente um terreno mais favorável, tem tido sucessos inegáveis. E treina, treina as tropas antes da batalha.

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© José Pacheco Pereira
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