ABRUPTO

23.6.08


CAFÉS

No Norte há cafés, no Sul há pastelarias, mas são tudo lanchonetes. Chegados à hora do almoço, expulsam toda a gente para pôr as toalhas de papel e servir coisas inenarráveis. Num café junto ao mar, onde estou agora, há muitos anos vi José Régio, encarquilhado, implodido na sua pequenez, a ler um jornal e a tomar um café. Tudo era hábito, tudo normal. Eu gostava pouco de José Régio. Tinha um grande título, Davam Grandes Passeios ao Domingo, e quase mais nada. Tinha lido alguma coisa dele e sempre com um enorme enfado, como a Benilde ou a Virgem Mãe. A presunção ataca muito a certas idades. Tinha (e tenho) um carta dele a elogiar o jornal do meu liceu, o Prelúdio, com aquela letra inconfundível, aberta, redonda, de homem, mas pouco máscula, o contrário da de Vergílio Ferreira, ilegível. Anos mais tarde voltei a Régio por causa do "umbiguismo" de Cunhal. Mas agora vejo-o no mesmo sítio com nitidez, sóbrio e sombrio. Será que alguém me está a ver com os mesmos olhos? Talvez, por piores razões. Antes era pela leitura, agora é pela televisão. "É o senhor da SIC?" Sou, sou o "senhor da SIC" como se fosse dos Anéis.

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© José Pacheco Pereira
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