ABRUPTO

20.5.08


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: A REVOLUÇÃO QUE NINGUÉM SABE SE HOUVE, OS ADVERSÁRIOS QUE NINGUÉM SABE QUAIS FORAM

Peter Siani-Davies, The Romanian Revolution of December 1989, Cornell University Press, 2005.

Por várias razões e testemunhos, - ter tido a oportunidade de visitar o local da execução de Ceausescu quando este continuava interdito e ainda estava "fresco" (um dia publico as fotografias), a discussão um pouco agreste sobre o tratamento português da PIDE como "associação de malfeitores" em contraste com as ambiguidades dos "técnicos para recuperar" da Securitate, discussão tida com o homem errado no sítio errado, nem mais nem menos do que com um dos personagens obscuros da "revolução", Virgil Magureanu, então à frente dos Serviços de Informação Romenos, encontros com Iliescu, Petre Roman e outros, quando tudo estava também "fresco", a começar pela carga de pancada dos mineiros contra os estudantes, mais uma Mineriadă, etc., etc. -, a "revolução romena" interessa-me bastante.

Este livro é o mais rigoroso relato e análise dessa "revolução", mas as perplexidades que continuam em aberto, face ao que aconteceu em Dezembro de 1989, mostram como ainda tem sentido manter as aspas em revolução. Na verdade, não é comum face a um evento tão historicamente próximo, coberto, ainda que imperfeitamente, pelos media modernos, em que a maioria dos intervenientes estão vivos, não se ter resposta cabal para perguntas tão decisivas como sejam: o que é que aconteceu em Timisoara, o que é que se passou no dia crucial da fuga de Ceausescu, houve um golpe ou uma revolução, ou um golpe e uma revolução, quando é que apareceu a Frente de Salvação Nacional, antes, durante ou depois dos eventos, e a pergunta ainda mais surpreendente, quem é que lutou nos dias seguintes à fuga e à execução de Ceausescu, no momento em que milhares de mortos (não se sabe quantos) ocorreram por toda a Roménia? A Securitate, como se dizia? Parece que não. Unidades militares fiéis ao regime? Também não é líquido. Terroristas estrangeiros importados na fase final do regime por Ceausescu? Parece ter sido uma lenda.

O livro de Peter Siani-Davies é uma análise muito segura do que se sabe e uma identificação igualmente segura do que não se sabe, mas como o autor reconhece permanecem muitos aspectos obscuros nos eventos desses dias, naquela que foi a única queda violenta de um regime comunista europeu.

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© José Pacheco Pereira
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